Ivan Rodrigues

Máscara Mortuária de Napoleão Bonaparte.

Máscara Mortuária de Napoleão Bonaparte.

Diante da mixórdia do quadro político que vivemos hoje no Brasil, assusta-nos o desencanto, a desilusão, a descrença, o desânimo, e o pessimismo que se evidenciam nas manifestações que assistimos pelos noticiários da imprensa e das redes sociais.
O que mais impressiona é que o quadro formado traz um forte sentimento de perda da ESPERANÇA, que se apodera da população como se estivéssemos num beco sem saída e na inteira dependência do aparecimento de Salvadores da Pátria, Messiânicos e “Sassás Mutemas” da vida. Isso é ruim, muito ruim, sobretudo pelas distorções criadas pela farsa dos fictícios embates ideológicos, pela intentada desqualificação das instituições democráticas e pelo ataque sistemático a qualquer medida profilática, no sentido de restabelecer a dignidade tão desfigurada na gestão pública da Nação.
Vou me intrometer e provocar os que, por vezes, gastam mal seu tempo lendo os disparates que eventualmente escrevo, e vou falar demais. Sou um eterno e irrecuperável OTIMISTA, por ter vivido todas as crises do país, desde 1945 (Redemocratização após o Estado Novo Getulista), e observado que, invariavelmente, sempre surgem soluções harmônicas que, ao final, sem quebra de paradigmas e da dignidade, encontram a saída para reunificação da Nação. Da mesma forma que, nas eventuais divergências familiares, uma intervenção firme do patriarca resolve a questão e pacifica a comunidade familiar, nos conflitos políticos o empenho, e muito diálogo civilizado através de lideranças decentes (ainda existem, por mais difícil que pareça, e é só procurar) trarão com certeza a luzinha no fim do túnel. Não será, nunca, com a divisão da Nação em nós e eles; coxinhas e mortadelas; heróis nacionais e golpistas; e, conforme consagrado durante toda a ditadura militar, patriotas e subversivos!
Aqui cabe um pequeno parêntese: Fui tão inexpressivo durante a ditadura, que nunca mereci o enquadramento de subversivo ou corrupto, a despeito de meus notórios comprometimentos políticos. Devo ter sido uma porcaria…
Foi assim em 1945, com o afastamento de Getúlio e as eleições gerais em 1947; em 1950, com a volta de Getúlio pelo voto popular; em 1954, com o suicídio de Getúlio e a pronta manifestação do General Lott, ao abortar a sedição de Café Filho e Lacerda, e assegurar as eleições livres que elegeram Juscelino; em 1961, com a renúncia tresloucada de Jânio, que gerou um ensaio de insubordinação militar, frustrada pelo arranjo da solução parlamentarista que adiou a Ditatura Militar para 1964, esta com a sua  consequente destruição de vidas, de carreiras e de sentimentos; em 1979, com a solução de uma anistia que deixou sequelas até hoje; em 1988, com a nova Constituição; em 1992, com o “impeachment” de Collor e a solução institucional da assunção de Itamar, dentro das regras democráticas e sem a menor agitação; em 2002, com a eleição de um homem do povo, retirante da miséria nordestina, em contrariedade às oligarquias, com o apoio maciço e alegre da Nação,  que se viu frustrada com a sua infeliz sucessão e a  tolerância diante da corrupção desenfreada, ao converter os seus bandidos, julgados, condenados e presos, em heróis nacionais; e agora, em 2016, com o “impeachment” de Dilma e a assunção de Temer, rigorosamente dentro dos ditames institucionais e das regras democráticas, que os seus opositores só aceitam quando lhes são favoráveis. Democracia de ocasião e de conveniência!
Sou o homem do copo sempre MEIO CHEIO, pois tenho consciência de que a democracia nunca foi fácil, é dura, difícil, exige tolerância às divergências, busca de entendimentos, respeito ao contraditório, civismo e, acima de tudo, não misturar questões políticas com pessoais (olha em que deu a “misturada” que Geddel tentou), conforme aprendi com meus mestres de Política, Arraes e meu velho pai Zé Batatinha.
Milito há mais de 70 anos, não tenho inimigos e sim adversários políticos. Sempre fui e sou aliado fiel, e não servo, dos governos a que servi com minhas limitações naturais e muita honra: Arraes, Eduardo, João Lyra e Paulo. Quando, eventualmente, me senti desconfortável, botei o chapéu na cabeça e fui embora, com o respeito cabível.
Tenho absoluta consciência de que, sem o aperfeiçoamento da sociedade, não chegaremos a porto seguro algum. Precisamos fazer a mesma autocrítica que exigimos dos governantes que erraram.
Passamos a vida inteira reclamando que cadeia no Brasil era só para preto, pobre e prostituta e, de repente, estamos assistindo aos maiores empresários do país e seus comparsas, doleiros, operadores e políticos, julgados, condenado, presos, devolvendo valores expressivos aos cofres públicos. Ao invés de aplaudir, ficamos reclamando lamuriosamente que ainda falta gente, que a condenação é seletiva, e estão faltando outros políticos na cadeia. Será que estamos com pena dos financiadores das patifarias, que se constituem na imensa maioria dos condenados e presos?
Claro que o foco inicial voltou-se para o Partido dominante, sobretudo quando ele não tomou a lição do chamado Mensalão e buscou a solução maluca dos “presos políticos”, imaginando que estariam acima do bem e do mal, pelo que terminaram desaguando no Petrolão, e na dupla condenação de gente como Pedro Correia e Zé Dirceu. Agora, de uma coisa podem ter certeza: se não derrubarmos o Foro Privilegiado, daqui a dez anos ainda não veremos a condenação dos privilegiados que se encontram homiziados no STF, pela maldita jabuticaba.
O Parlamento é indigno, e composto de titulares que já foram considerados por Lula como 300 “picaretas”, e pelo ex-Ministro Cid Gomes como 400 “achacadores”? É sim, mas, na verdade, o Congresso Nacional é um retrato em preto e branco do nosso corpo social. Somos todos nós que estamos ali espelhados, como responsáveis que somos por suas eleições. Não há ninguém nomeado. Somos nós que estamos ali representados e – no fundo – foi isso que nos revoltou, diante das diatribes praticadas, como quando Bolsonaro homenageou um torturador, e Eduardo da Fonte colocou um garoto de 14 anos – civilmente incapaz – para representá-lo na votação.
Reclamamos da limpeza das ruas, mas todos os dias levamos nossos mimosos cachorrinhos para cagar na rua; reclamamos de ciclovias protegidas, mas duvido que não encontrem, a qualquer hora, as bicicletas desafiadoramente atropelando os pedestres nos calçadões, e já vi (pasmem) pedestres fazendo cooper nas ciclovias; reclamamos dos privilégios, mas furamos filas toda hora; detestamos engarrafamentos no trânsito e protestamos contra a falta de fiscalização, mas paramos sempre em estacionamentos proibidos, e ainda reclamamos quando somos multados; condenamos a corrupção, mas não perdemos oportunidade de distribuir “gratificações” para nos livrarem de multas, ou damos “carteiradas” para obter vantagens;  e vamos por aí afora. Reclamar a quem: ao Papa Francisco ou à Mãe do Guarda da Esquina?
Estamos lutando por um país melhor para nossos descendentes e o nosso Brasil é ainda muito jovem, tem um longo caminho a percorrer, e não se pode esquecer que as grandes transgressões começam com os pequenos ilícitos: É fundamental que respeitemos as regras democráticas e as suas instituições, mesmo que também cometam erros. Vamos cumprir as obrigações e deveres que nos cabem, além de cobrar os direitos e vantagens que também merecemos. Se cumprirmos bem a nossa parte, daremos uma grande contribuição para o melhoramento do corpo social por inteiro. Mais importante que tudo, não permitamos que os maus DESTRUAM  A  NOSSA  ESPERANÇA.
E chegará o dia em que se criará uma nova concepção inversa à preconizada por Ruy: O BRASILEIRO TERÁ VERGONHA DE SER DESONESTO!