Editorial

Emmeline Pankhurst (1858-1958) – líder feminista inglesa.

O Dia da Mulher é um marco simbólico no calendário, para estimular a discussão sobre as desigualdades de gênero, e alimentar a luta do movimento feminista contra o machismo e o sexismo dominantes na sociedade. Nos últimos 50 anos, principalmente depois da revolução cultural dos anos 60, houve avanços significativos no combate ao preconceito e às desigualdades de gênero. O movimento é lento, irregular e contraditório. Em todo o mundo, e também no Brasil, as mulheres vêm ocupando, de forma crescente, uma posição destacada na vida pública e social e no mercado de trabalho, embora continuem recebendo, em média, apenas 74,5% dos salários dos homens, mesmo tendo maior nível de escolaridade (19,2% das mulheres que trabalham têm o superior completo, entre os homens este percentual cai para apenas 11,5%). Mas as desigualdades persistem, e a mulher continua sendo vítima de agressão à sua dignidade de forma grave no Brasil que, segundo a OMS, tem a quinta maior taxa de feminicídio do mundo. Entretanto, no que se refere à qualidade de vida e ao acesso aos serviços públicos (principalmente educação, saúde e habitação), a desigualdade entre mulheres dos segmentos sociais médio ou alto, e as mulheres pobres, é maior, muito maior mesmo, que a desigualdade entre homens e mulheres dos mesmos segmentos. As mulheres mais escolarizadas e com maior qualificação profissional conseguem melhores empregos e, se ganham menos que os homens pela mesma função, ganham muito mais que as mulheres com baixa escolaridade e qualificação, que sequer conseguem atuar na mesma atividade profissional. A desigualdade é muito maior entre as mulheres de alta e baixa renda que entre os homens de alta e baixa renda. Segundo o IBGE, em 2010, o rendimento médio das mulheres com os 20% maiores rendimentos equivalia a 20,5 vezes o rendimento das mulheres com os 20% menores rendimentos, relação que, entre os homens, cai para 14,1, vezes. Em grande medida, a liberação da mulher de renda média e alta tem sido viabilizada – tempo livre para estudar e trabalhar – pela contratação das mulheres de baixa escolaridade e qualificação, para os serviços domésticos, incluindo o cuidado dos seus filhos, serviços domésticos que, via de regra, não são partilhados pelos seus parceiros. Em certa medida, por mais que seja paradoxal e cruel, a desigualdade social (alimentada pela diferença em escolaridade e qualificação) favorece a redução das desigualdades de gênero, nos segmentos da população (homens e mulheres) de maior escolaridade e renda.