João Rego 

 Por do sol em Morro de São Paulo - foto J. Rego

Por do sol em Morro de São Paulo – foto J. Rego

Outubro de 2013

Minha experiência com o barco não foi traumática, porem exigiu de mim certa tensão. Logo que cheguei, o tripulante do barco me avisou: a volta é contra as ondas e o barco bate mais. Fiquei com a pulga atrás da orelha e pensando como achar uma saída alternativa para estas duas horas e meia de balanço mar adentro.

Como o lugar é paradisíaco (eita clichê), esqueci- me deste detalhe a tratei de curtir a Ilha. Encontro um primeiro problema com relação aos passeios marítimos em torno da ilha. Não há meio termo: ou você compra um passeio e passa o dia inteiro zanzando em um barco, ou não vai passear de barco. Não há um passeio de duas horas ou até mesmo de uma hora só para matar a curiosidade. Não. São no mínimo nove horas dentro de um barco, o que, para mim que estou acostumado no máximo ao balanço da minha rede, é muito. Decidimos relaxar e não seguir a multidão.

Falando em seguir a multidão, encontrei mais tarde um colega de viagem que havia feito o passeio com a esposa e o filho, todo molhado e tenso, mas bem feliz porque havia “cumprido esta tarefa”. Pela sua expressão e relato, vi que não extraiu prazer nenhum. Apenas enfrentou um desafio muito acima das suas possibilidades. Este havia sido um daqueles que já havia passado mal durante a travessia.

Bem, cada um faz o que quer com suas férias.

Nossa pousada, muito bem localizada, construída em um dos morros, tem, lá em cima, uma piscina com vista infinita para o mar e para o belo morro do Farol. É de lá que descem os mais jovens e afoitos em uma Tirolesa de 80 metros de altura e 800 metros de comprimento, fazendo o percurso do alto do morro e jogando você lá em baixo no mar. Era gozado ouvir os gritos de excitação e terror dos afoitos. Nesta piscina, que para a nossa sorte estava sempre vazia, finalizávamos nossos passeios ao final do dia, sempre com uma taça de vinho e uma leve refeição.

Decidimos explorar a ilha de Land Rover, que balança um pouco menos que o barco no mar. Um passeio mais agradável e sem tantos desafios. Nosso destino foi a Praia de Garapuá, que fica a cerca de quarenta minutos de carro. É uma bela praia com uma infraestrutura rústica e agradável. Nosso motorista Euzébio (nome dado pelo seu pai em homenagem ao famoso jogador português) ia contando estórias da Ilha enquanto dirigia seu sacolejante Land Rover. Chegando à praia, onde não pode entrar carro, fomos andando até um pequeno vilarejo onde nos esperava o parceiro comercial de Eusébio, o famoso Capitão Pipoca. Tem este nome porque pilota um pequeno barco de pesca a motor no qual leva os turistas para uns corais a 500 metros da praia. Possui um restaurante à beira mar com cadeiras na praia, no qual toda sua família trabalha fritando o peixe pescado no dia e lagosta, deliciosamente preparada à moda do local. Comida bem servida com uma cerveja honesta e gelada.

Neste passeio ficamos amigos de uma família do interior de São Paulo, composta pelo casal e seus três filhos, um dos quais ainda de colo. Vão para todo canto com eles. Impressionou-me a coragem e praticidade deles com os filhos.

À noite nosso principal compromisso, depois do “obrigatório” passeio pela Rua Caminho da Praia, foi esperar a lua cheia nascer tomando caipiroska no Bar Pedra sobre Pedra, na entrada da Segunda Praia.

Quando foi se aproximando a dia de voltarmos para casa, a pulga atrás da orelha começou a incomodar: duas horas e meia contra as ondas até Salvador! Tinha visto que há uma companhia de taxi aéreo na ilha que em vinte minutos de voo deixa você no aeroporto de Salvador. Fiz as contas, negociei com a agência, pois já havíamos pago o barco de volta. Transferi tudo, mais o complemento da passagem, para voltar de avião. Meu filho quando soube me assustou:

– Pai, estes aviões pequenos caem muito. Não são seguros.

Bem, tinha a opção de trocar duas horas e meia de agonia no mar por vinte minutos de voo em um pequeno avião bimotor de seis lugares. Era ainda um bom negócio. No “aeroclube” estávamos eu, Elba e um casal italiano. Chega o avião com turistas alemães e vejo quão frágil ele é. Entro e sento com dificuldades, pois o teto é muito baixo. Faz calor e as moscas incomodam, principalmente ao casal europeu. Quase sentados um no colo do outro, começamos aquela inevitável conversa para quebrar o clima. Eram de Roma e vinham com frequência à ilha. E nada do avião decolar.

Após alguns minutos, sobe o piloto com raiva e explica que, pelas limitações do avião, só poderia decolar com quatro passageiros e que o pessoal de terra havia vendido cinco passagens. Após ter reclamado com o dono da empresa, haviam decidido levar o quinto passageiro, um advogado argentino.

Entreolhamo-nos num átimo de medo, exceto pela italiana que não entendia nada de português e olhava feliz e tranquila pela janela.

– Mas não tem problema? Perguntou o italiano.

– Não, o tempo está bom.

Decolamos e em poucos minutos. A bela vista aérea da Ilha já apagara a má impressão e o medo que o piloto nos causara.

 

Está a terceira crônica sobre Impressões de um Viajante: Morro de São Paulo. Abaixo o link para as duas primeiras:

Morro de São Paulo, a chegada
Morro de São Paulo, a Rua Caminho da Praia.

 

DITOS & ESCRITOS
João Rego
joaorego.com