João Humberto Martorelli

Na China, a luta contra a discriminação da mulher vem tomando corpo nos últimos anos, sobretudo a partir de 2012, quando da ocupação dos banheiros masculinos em Cantão e Pequim por um grupo de jovens ativistas protestando contra a falta de espaço nos banheiros femininos: é justo, não há razão para o mictório, bem menor que a privada universal, ocupar muitos metros quadrados mais do que os locais destinados às privadas. Nada mais degradante do que um espaço pequeno para os inefáveis odores dos banheiros. Disse mictório, porque nós, homens, aqui no Brasil, assim nos apropriamos deles, do termo, mas o mictório, ou mijadeiro, mijadoiro, mijadouro, sumidouro, é o local próprio para urinar, de maneira que, não querendo ser acusado de discriminação, anoto aqui utilizar o modo popular, já consagrado na língua portuguesa, que reserva o mictório para a micção masculina, reconhecendo, porém, os méritos femininos de usar o termo mictório e, acordando com a reivindicação feminista chinesa, mictórios amplos, enormes, compatíveis com a dignidade do gênero. Lideradas por Li Ting-ting, outras ativistas, pela mesma época da reivindicação dos banheiros, saíram às ruas de Pequim com vestidos de noivas ensanguentados, a fim de chamar a atenção sobre a violência doméstica. Também desfilaram pelas ruas pregando o fim do assédio sexual nos transportes públicos. É certo que tamanhas reclamações terminaram por acionar o estado chinês, conhecido por seu micterismo (nada a ver com a micturição ou micção), de modo que as ativistas chinesas terminaram na prisão, arresto que chamou mais atenção do que a prisão do conhecido advogado Pu Zhiqiang, aspecto notável, porque, afinal de contas, não passavam de estudantes defendendo valores razoáveis, aceitáveis, a dizer, normais em qualquer civilização. No Brasil, começa a ser importante o ativismo feminista adolescente nas escolas de segundo grau, garotas de 15, 16 anos defendendo o fim do assédio irresponsável, é a tal coisa de quem mandou você tocar em mim?, do bullying, o direito de ir à escola usando shorts, entre outras bandeiras desse movimento. Parece que aqui as reclamações e as decisões funcionam diferentemente, pois os movimentos têm sido vitoriosos e as escolas, após demorada discussão com as ativistas, concordaram com as reivindicações, notadamente a dos shorts, que seria a mais perigosa na visão da direção dos estabelecimentos. A questão é: existe diferença substancial entre as feministas chinesas e brasileiras, ou a questão de Estado, e cultural, é mais importante na comparação? Transportando o assunto para corrupção, corruptos e quejandos, o corrupto na China levou bala na cabeça, lembram? Processo rápido, praticamente sem direito de defesa. Aqui sempre é mais democrático, para tudo. Ainda bem.