David Hulak

O Gueto de Varsóvia

O Gueto de Varsóvia

Será Eduardo Saboia uma nova Dona Aracy, a mulher de Guimarães Rosa, que como burocrata do Itamaraty concedeu, se arriscando, vistos a judeus que conseguiram escapar do burocrata Eichmann?

Ela também abrigou foragidos do DOI/CODI, do CENIMAR e congêneres, inclusive Geraldo Vandré.

Há burocratas do bem e do mal? O mal é mais banal que o bem. Será?

Deve haver resposta para a minhas dúvidas. Como temia, o filme sobre Arendt suscitou muita besteira pela mídia, pois a banalizaram. Do que li e ouvi, no entanto, rolaram algumas coisas sérias, como o debate que “Será?” editou. Fiquei feliz por ver que tem gente que leu o que Hannah escreveu. Recomendo ver o vídeo e ler os diversos comentários.

Havia caído na boca de botequineiros, de estagiários de rádio e TV, nas cartas à redação. uma tal de “banalização do mal”. De qual se fala com a maior intimidade. Como se falava na primeira etapa do julgamento do Mensalão em mandato de injunção e neste seu final de embargos infringentes.

Pintou também judenrat, judeus abastados e até o Barão Rotchild que, aparentemente, não tinha colegas banqueiros gentios.  Pode vir a sobrar para os Safra que não têm nada com o Bradesco, o Itaú e o Gerador Participações. Ainda bem que Luciano Oliveira, colocou as coisas em seu lugar, quer no referido debate da “Sera?”, quer nos seus comentários a comentários de terceiros.

Concordo também com o sociólogo Luciano na sua versão crítico de cinema. O filme é padrão americano, falso por “licença dramática”, isto é, desculpa  de roteiristas viciados, e ainda é obaobal no final. E sutilmente antissemita.

Mesmo antes de Arend cair na boca do povo ouvi várias vezes usarem-na afirmando “Tá vendo? Ela mesmo que é judia é quem diz…!”. Mas, me parece que o buraco é mais fundo.

Tanto ela como Zigmund Bauman analisaram o holocausto e o antissemitismo que lhe deu respaldo para entender o totalitarismo, a modernidade do mal.

A aplicação do “taylorismo, fayolismo e fordismo” e a Reengenharia para tratar a “questão judaica” no atacado, superando os pogroms localizados, foi de muita eficiência e eficácia.

Só que não resolveu. Sobreviveram judeus, ciganos, homossexuais arianos,

Os judeus, maioria e organizados, até porque conquistaram um país para a sua nação, não deixaram esquecer o Holocausto. Muitos contam a história.

Como os que escaparam antes e os que sobreviveram. Ouvi de meus pais que emigraram em tempo e tive um tio achado nos abrigos aliados em 1946. Nem todos os nossos parentes tiveram tal sorte.

Esclareço que, como Luciano Oliveira, nunca ouvi judenrat no plural. Talvez porque só o houve significativamente em Varsóvia.

( ver” Mila 18”, romance de Leon Uris e O Levante do Gueto de Varsóvia, história, editada pela extinta Editora Vitória)

Mais do que aquele Conselho deveremos lembrar a heroica defesa daquele Gueto, resistindo aos alemães e aos poloneses através dos sionistas do Hashomer, dos judeus comunistas do BUND, partido socialista operário judaico e dos comunistas propriamente ditos, os do Partido polaco  que não se agradavam judeus em seus quadros (daí o BUND).

Os seus membros do judenrat, se abastados tivessem sido já não o eram mais. Os nazistas tinham lhes tomado tudo. Os religiosos procuravam praticar a caridade até distribuindo as suas privilegiadas rações; os “abjetamente” sobreviventes alegavam essa condição pensando que não iriam para os fornos crematórios. Foram todos, caridosos e sobreviventes.

Aliás, essa de sobrevivente ouvi muito nos anos de chumbo tupiniquins.

Parece que tergiversei.

Sobre antissemitismo há séculos que já se escreveu muito. Chega.

Na qualidade humilde sociólogo pelo antigo Instituto de Ciências do Homem, da UFPE, acho que o  mais fundo é a Diferença. 

Os teimosos judeus, sobretudo, os na Europa, desde a diáspora, isto é, um êxodo forçado pelos romanos (até os seus cúmplices fariseus tiveram que se mandar), resolveram manter-se na face da terra com sua religião, costumes e cultura. Estabeleceram assim um padrão para a Diferença como argumento para o mal.

É muito conhecida a saudação Shalom. Há outra

Aqueles chatos diziam uns aos outros nas grandes datas como no Ano Novo judaico , por exemplo:

“No Ano Que Vem, em Jerusalém”.

Diferentes? Torne-os iguais. Que sejam cristãos-novos, mas paguem por isso.

Diferentes? Negros africanos que sejam escravos, pois são uma raça inferior, nem humanos são.

Diferentes os da antiga Iugoslávia? Matemo-nos mutuamente sérvios, croatas, bósnios e muçulmanos.

Diferentes aqueles que acampam sobre todo o petróleo do mundo? Exorcet e Patriot nos que não o fornece para nós.

Diferente os Filistin? Ergamos muros e erijamos casas pré-fabricadas.

Diferentes o nordestinos? Desfrutemos- de suas praias e de seus cajus, fazendo-os nossos porteiros, domésticas, pedreiros e equilibristas e mandemos-lhes Bolsa-Seca.

Diferente os pobres, negros, pardos? Eca! Mas lhes daremos cotas.

Diferente o não bolivariano?” Vejam:” ele está gordinho e não parece mal tratado”. Se não estivesse apenas em cárcere privado e passado pelo DOI-CODI aí sim ele veria o que é bom para a tosse.

Hoje, com a modernidade dos nichos. segmentos e “targets”, o mal de massas estará superado?

Sei não. Estamos com a web conhecendo um- a- um e dessa forma sacando o todo: a espécie humana que não atenta para o Gene Egoísta que está pouco se lixando para a cultura, a sociologia o environment e para a nossa vã filosofia. (ver Richard Dawkins, Companhia de Letras, 2007).