Os conflitos indígenas no Brasil envolvem duas questões complexas. A primeira é o verdadeiro caos fundiário dominante nas áreas de fronteira do Brasil com a disputa pela propriedade das terras indígenas que, ao longo das décadas, foram parcialmente ocupadas por produtores rurais, muitos deles com titulação. São 688 territórios indígenas espalhados em todos os Estados brasileiros, numa área de 1,1 milhões de metros quadrados (13% do território nacional) ricos em madeira, biodiversidade e minérios, onde vivem 572 mil indígenas. As tensões e confrontos vão persistir enquanto não forem equacionadas as superposições de titulação com a demarcação e homologação das terras indígenas e sua proteção contra ocupações. A segunda questão é antropológica e diz respeito às mudanças das características culturais dos 238 grupos indígenas que vivem no Brasil com diferentes graus de articulação e integração com a sociedade moderna e sua relação com a economia de mercado. Esses dois fatores de crise explodiram esta semana com a morte do índio Oziel Gabriel numa operação policial de reintegração de posse. Esta era uma crise anunciada pela morosidade e incompetência política e jurídica na delimitação e demarcação das terras indígenas. Mas o detonador foi a decisão atrapalhada do Governo Federal de retirar mais poder da já fragilizada e despreparada FUNAI e, para completar, suspender o processo de demarcação das terras indígenas. O Brasil pode até rediscutir os critérios mas deve, ao mesmo tempo, acelerar a demarcação das terras indígenas e resolver rápida e eficazmente os conflitos fundiários.