João Humberto Martorelli

Milhares de refugiados dos conflitos do Oriente Médio atravessando o mar e a terra sob o pálio da fome, do frio, da tortura, do suborno, da exploração da sina maldita, sendo vistos como invasores, tomadores de emprego, a crueldade presidindo as decisões e políticas governamentais, a ponto de a luz no fim do túnel, a Alemanha, alinhar-se em favor dos imigrantes unicamente porque a população está envelhecida e precisa de força de trabalho. Um refugiado sírio de 71 anos, com câncer de pulmão, desabafou: o mundo está dormindo para os imigrantes. Está mesmo, ou talvez acordado com olhos de rejeição e nojo. Na versão cucaracha da novela, Maduro expulsa os colombianos e os jornais retratam levas de miseráveis com seus penduricalhos, móveis e filhos aos ombros fazendo a travessia de um rio revolto, suor, decepção, lágrimas, irremediável perda de esperança. Isso tudo quando reverenciamos 70 anos do massacre dos judeus pelo Hitler furioso, a encarnação do mal. E a verdade é que a maldade preside o destino do mundo. Pouco podemos fazer pelos refugiados de lá e de cá, invisíveis para nós também, mas podemos fazer muito pelos refugiados que estão perto de nós, os refugiados da sorte, da bem-aventurança, desafortunados, igualmente invisíveis, seres iguais a nós nas frustrações e tristezas que nos assolam, mas sem um mínimo de alegria que, aqui e acolá, nos consola e ampara, os sem família. Por isso, o Sport Club do Recife, no último domingo de agosto, embora derrotado em campo, marcou muitos gols ao lançar mais um projeto social, Adote um Pequeno Torcedor, objetivando iluminar um assunto esquecido, a causa de 6.000 crianças brasileiras, das quais 43 em Recife e 300 em Pernambuco, abandonadas nos abrigos à espera de uma família que as adote, todas maiores de 7 anos, ou deficientes físicas ou mentais, negras, integrando, enfim, um grupo que a compreensível, mas triste, seletividade da adoção, preferindo-se crianças brancas e em tenra idade, exclui por completo da esperança de encontrar um lar. O Sport exerce, assim, de forma efetiva, o dever de responsabilidade social de toda entidade da sociedade civil, cujos propósitos e missão não se podem restringir a objetivos de conquistas individuais, cada empresa, cada associação, cada entidade, de fins lucrativos ou não, tendo o dever de contribuir para o aperfeiçoamento da sociedade e para o bem de todos. O Sport procura, sim, participar e ganhar campeonatos de futebol, mas nenhuma valia teria qualquer conquista futebolística se não dirigisse também a energia e a paixão de seus sócios para o despertar da solidariedade. Que possam também os demais clubes, os grandes rivais em campo, tornar-se solidários na trincheira do bem, e incentivar suas famílias na adoção dos pequenos rubro-negros. Por uma família, eles virariam a casaca. E nós, do Sport, ficaríamos muito felizes com o gol do adversário.