Sérgio C. Buarque

O governo Temer acabou, e acabou de forma vergonhosa, com estas conversas indecentes de um presidente da República com um empresário mafioso que, junto com Marcelo Odebrecht e outros empresários menores, parecia mandar no Brasil. Não se pode comemorar, contudo, mais esta desmoralização da politica brasileira. Muito pelo contrário, o risco de uma desagregação econômica e social do país aumenta, e aumenta muito, com a total incerteza em relação à futura condução política do Brasil. Até a semana passada, o Brasil tinha uma agenda, concordem ou não com ela. Mesmo em um ano de governo tumultuado e contestado, o presidente Temer definiu uma agenda para o país, e uma agenda correta para tirar o Brasil do abismo fiscal e prepará-lo para as eleições de 2018. O governo aprovou o teto de gastos públicos, para frear o movimento descontrolado de aumento das despesas primárias, que aumentava o déficit, ampliava o endividamento e comprimia os investimentos governamentais. Este foi um primeiro passo importante para reequilibrar as finanças públicas no médio prazo, que, no entanto, só valerá se avançarmos no restante da agenda do governo que sai: a reforma da Previdência.

Não custa repetir que, sem a reforma da Previdência, o teto dos gastos públicos vai implodir, e o Brasil pode mergulhar rapidamente numa grave crise fiscal, considerando, principalmente, a força inercial das despesas previdenciárias. O Brasil será o Rio de Janeiro amanhã. As negociações políticas dos últimos meses estavam levando para a aprovação desta reforma, principalmente depois que foram feitos aprimoramentos na proposta original. Seria um grande alívio para as finanças públicas e uma sinalização positiva para os agentes econômicos, que daria consistência ao movimento, mesmo lento e tímido, de retomada do crescimento econômico. A reforma trabalhista, terceiro aspecto da agenda que fica suspensa agora, estava avançando no Congresso, e deveria contribuir para adequar a legislação brasileira às rápidas mudanças na estrutura produtiva, nos processos de produção e nas relações de trabalho, livrando o Brasil das anacrônicas regras, incluindo a farra do imposto sindical e a enorme insegurança jurídica.

Neste delicado momento politico, resta aos brasileiros cobrar dos homens públicos com lucidez e responsabilidade a negociação de uma saída política para a crise, que contemple a recuperação da agenda de reformas  iniciada pelo governo Michel Temer.