No vazio político que se formou no Brasil neste ano, eis que surge Renan Calheiros como uma tábua de salvação do governo da presidente Dilma Rousseff, lançando uma agenda ampla de medidas e iniciativas de diferentes graus de relevância. Embora a agenda seja uma tentativa de desviar a atenção da crise econômica e política, contempla propostas importantes, combinando iniciativas de curto prazo para o reequilíbrio fiscal com medidas estruturais de impacto na economia. A longa lista vai desde a definição de uma idade mínima para aposentadoria mediante estudos atuariais, tão importante quanto altamente explosiva, até a extinção da União Aduaneira do Mercosul para permitir ao Brasil a assinatura de acordos bilaterais sem as amarras restritivas dos parceiros, passando pelo genérico e vago “tratamento prioritário à questão da segurança pública e do sistema prisional”. Pode ser um começo, mas é difícil imaginar a construção de algum consenso político em torno das medidas propostas, cada uma delas encontrando forte resistência e oposição dos diferentes grupos de interesse no parlamento e na sociedade brasileira. Além do mais, o seu patrocinador, o senador Renan Calheiros, não inspira a confiança necessária para medidas de tal magnitude. O próprio partido do governo tem sido radicalmente contra a maioria das medidas de equilíbrio fiscal, de reforma administrativa e de redefinição do sistema previdenciário, independentemente da sua discutível execução. Contudo, a agenda está ajudando a conter o processo de desmonte da governabilidade. Se o objetivo era este, não existe duvida do seu sucesso. Mas a hábil jogada de Renan tem um subproduto: a dívida impagável que o governo contrai com o seu “salvador”.