A morte do jovem Douglas Rafael da Silva no Rio de Janeiro é uma tragédia familiar e comunitária que entristece os brasileiros, provocando uma justa e compreensiva comoção na sociedade. O evento – dramático e doloroso – não pode, contudo, servir para uma demonização geral da polícia e, menos ainda, para a desqualificação das UPPs-Unidade de Polícia Pacificadora, chamada de “assassina” por manifestantes no velório de DG (como era conhecido o dançarino). Não está comprovado que foi a polícia que matou DG, mas, caso se confirme esta hipótese, mesmo no meio de um tiroteio, o Estado deve reconhecer e punir os responsáveis de forma clara e transparente, dando satisfação à sociedade e procurando recuperar a confiança nas instituições e no projeto de pacificação. Neste momento de comoção e sofrimento, contudo, é necessário separar este incidente (como de outros já registrados em diferentes áreas de ocupação) da estratégia vitoriosa de ocupação e implantação das UPPs-Unidades de Polícia Pacificadora, tomando o poder e assumindo o controle sobre o território que tem sido dominado, nas últimas décadas, por diferentes facções criminosas, traficantes e milicianos. Ninguém duvida que a polícia é uma instituição cheia de vícios, contaminada por grupos criminosos e com relações promíscuas com bandidos. Mas esta fragilidade da organização que representa o Estado no território não pode ser generalizada nem pode legitimar a demonização da policia, menos ainda a retirada das UPPs das favelas. A dissolução das UPPs interessa apenas ao crime organizado, que vem perdendo território e influência em 37 áreas do Rio de Janeiro onde vivem 8,6% da população da cidade. Nas últimas semanas, as organizações criminosas vêm tentando recuperar espaços no território com ataques às unidades policiais em violentos confrontos armados. Sem muita chance no terreno militar, o crime organizado pode estar se beneficiando politicamente de incidentes como a morte de DG, explorando a comoção social e jogando contra a UPP. Quanto mais fracas sejam as UPPs, mais chances tem o crime organizado de recuperar o poder nas favelas. A guerra pelo território ganha assim conotações políticas.