Elimar  Nascimento

Romero Jucá, Sarney e Renan Calheiros, a velha dinastia política.

Apesar da queda da inflação e das taxas de juros, além da propaganda governamental, oficial e oficiosa, a avaliação do povo brasileiro quanto ao rumo do País mantém-se inalterada. Segundo o Pulso Brasil, publicação do Instituto Ipsos Brasil, em junho de 2016, 11% da população brasileira julgava que o País caminhava no rumo certo. Temer acabara de assumir o poder como Presidente. Em janeiro de 2017 este percentual era de 12%. Praticamente igual. É verdade que se comparado a abril de 2016 há uma pequena diferença, pois naquele mês, em que a Dilma ainda era a presidente apenas 7% achava que o País caminhava no rumo certo.

A avaliação do Presidente também se mantém muito ruim, e pode-se mesmo afirmar que piorou, pois em junho/2016 os que o avaliavam como ruim e péssimo eram 43% e hoje, janeiro de 2017, são 59%. Os que o aprovam é apenas 8% em janeiro de 2017, contra 22% em junho de 2016.

Apenas a confiança do consumidor melhorou, pois somava 70 pontos em junho de 2016 e hoje é de 77. Mas com um detalhe, já foi de 79 em dezembro.

O que tudo isso significa?

Primeiro, surpreende a incapacidade do presidente Temer em melhorar sua imagem junto a opinião pública. Uma incapacidade estranha, pois, embora a população não tenha percebido, uma parte considerável dos especialistas julgam que as considerações de superação da crise estão dadas. Apesar da economia não está se recuperando no ritmo imaginado no meio do ano passado há sinais, se não de que a recuperação esta iniciando, pelo menos a queda está se extinguindo. Afinal, ademais da queda da inflação e dos juros, temos uma super-safra agrícola, um retorno da geração de emprego, apesar de pequeno, um desempenho levemente positivo da indústria depois de 22 meses de queda e, finalmente, uma perda do ritmo de queda do PIB. Isso significa que a comunicação do Presidente é muito ruim, ou ele é muito ruim politicamente? Aparentemente Temer governa de olho no placar do Congresso.

A fragilidade da retomada do crescimento se mostra mais forte na medida em que se considera que as reformas não foram, de fato, ainda aprovadas. E a batalha da comunicação em torno da reforma da Previdência está sendo perdida pelo governo, com pressões crescentes sobre o Parlamento. Teme-se que o resultado seja pífio, sobretudo depois da primeira concessão retirando os servidores estaduais e municipais da reforma. Assim, a reforma se desenha, cada vez mais, na exclusão de beneficiários importantes, como os juízes, os militares e parlamentares, além da alta cúpula da burocracia estatal, aumentando a desigualdade do País.  Por sua vez, a reforma trabalhista não parece deslanchar, e muito menos a fiscal.

A única reforma que ganha foros de velocidade é a política. Como os parlamentares estão preocupados cada vez mais em saber como se salvam da Lava Jato e asseguram condições favoráveis de reeleição em 2018 ela deverá progredir. Contudo, de maneira perversa, sem se preocupar realmente com a qualidade da representação. Os monstros que se desenham nesta reforma, nas conversas dos políticos e governantes, com presença estranha de membros das cortes supremas da Justiça, são assustadores. Lista fechada, com os donos dos partidos nas cabeças, é um deles. Votaríamos na lista organizada pelos partidos, e nela se esconderiam os donos dos partidos ou atuais parlamentares. Com isso, congelando a renovação política, mas, sobretudo, assegurando que os denunciados na Lava Jatos e estigmatizados pela opinião pública possam ser reeleitos. E, dessa forma, possam se manter no paraíso do STF, que além dos condenados no Mensalão conseguiu, em sua história secular, condenar apenas um político.

Segundo, os riscos da ruptura da coesão social aumentam.

Estão se criando condições favoráveis para que surjam movimentos de desagregação social extremamente perigosos. Embora a lista oficial dos denunciados não tenha ainda sido divulgado, sabe-se que é extensa, com ministros, governadores, senadores e deputados de mais de 15 partidos, entre eles: PMDB, PT, PSDB, PP, DEM, PTB, PDT e Solidariedade. O governo federal e o Congresso Nacional estão profundamente implicados.

Nesse ambiente as diversas corporações deverão sair as ruas: uns protestando contra a corrupção e o Parlamento, outros protestando contra a reforma da Previdência e outros ainda, no âmbito dos servidores, demandando aumentos salarias impossíveis de responder com o ajuste das despesas públicas. E ter-se-ão não apenas protestos, mas também movimentos de desobediência, como o da PM do Espírito Santo.

O mais grave é que se as diversas crises (politica, social, institucional, ética e de de legitimidade) aumentarem a retomada da economia vai para as calendas gregas. O País retomará a profunda crise de recessão, com consequências inimagináveis. E a ordem pública estará ameaçada. Nesse caso, o sistema politico-institucional se sustentará? O presidente sobreviverá a um clima desta natureza, que pode se expressar ao longo deste ano?

O contraponto.

Ha quem pense, porém, que nada disso irá acontecer. Nem as reformas, como propaladas virão, nem a coesão social será quebrada. As denúncias de corrupção já alcançaram um patamar de letargia. Não sensibiliza como antes. E as forças contra a Lava Jato aumentaram e se organizaram, agindo agora com eficiência. “É preciso parar com isso para o País retomar o crescimento econômico e gerar emprego”, diz um número crescente de formadores de opinião.  As reformas sairão, porém, desfiguradas. Dessa forma, a economia aos poucos irá se ajustando. Os protestos terão presença no quadrante do suportável. As demandas de aumento salarial no setor público terão algumas contempladas, outras não. Portanto, a pasmaceira política deve continuar, a corrupção aos poucos retomará seu patamar habitual, a maioria dos velhos políticos sobreviverá, agarrados aos seus rincões eleitorais. E o País será o mesmo em 2019. Ou quase. Continuaremos sem decifrar o enigma de nosso futuro e, entregaremos aos nossos filhos e netos um País mais pobre, comparativamente ao mundo, e pleno de desigualdade e corrupção. Será a vitória do velho Brasil. Será?