Sérgio C. Buarque

Quase um mês antes da abertura do processo de impeachment da presidente (afastada) Dilma Rousseff, um grupo de seis senadores apresentou um projeto de emenda constitucional para antecipação das eleições presidenciais para 2 de outubro próximo, simultaneamente com o pleito municipal. Depois de sustituida na presidência pelo vice Michel Temer, enquanto espera o julgamento do process, Dilma Rousseff e alguns setores do Partido dos Trabalhadores e de movimentos sociais passaram a defender a convocação de um plebiscito para decidir sobre novas eleições. Enquanto a proposta de emenda constitucional tramita no Senado, Dilma insinua que, voltando ao cargo, aceitaria a iniciativa do Congresso para convocação do plebiscito. As propostas, diferentes e conflitivas, não respondem a duas questões fundamentais: (1) quem vai governar o país até janeiro de 2017, no caso da emenda constitucional, ou depois que o plebiscito aprovar novas eleições a serem realizadas, sabe lá quando? O que significa decidir sobre a política para lidar com a dramática crise econômica que tende a se agravar num vazio criado pelo processo eleitoral. Vale considerar que a aprovação da emenda constitucional dificílmente ocorreria em tempo hábil para as eleições de outubro (deve ser aprovada por dois terços da Câmara de Deputados e do Senado). (2) se as eleições serão apenas para presidente da República (explicito nas duas propostas), o eleito vai governar com este Congresso dominado pelos interesses corporativos e mesquinhos?

Na justificativa da emenda constitucional, os senadores diziam (antes do afastamento de Dilma) que “tanto a Presidente da República quanto o Vice-Presidente representam um projeto de poder que conta hoje com a desaprovação da maioria da população”. Assim, eles devem considerar, estranhamente, que o Congresso, do qual fazem parte, representa um projeto de poder aprovado pela maioria da população. Será? Dilma fundamenta a proposta de plebiscito, afirmando que Temer não tem legitimidade política e que só a consulta popular poderia “lavar e enxaguar essa lambança que está sendo o governo Temer”. Tanto os senadores quanto a presidente afastada (que pretende voltar com as suas próprias lambanças) apresentam argumentos estritamente políticos para a mudança da Presidência da República, ignorando completamente os tais “crimes de responsabilidade” que exigem como condição para o impeachment. Difícil imaginar que senadores e presidente afastada não saibam da completamente inviabilidade destas propostas, tanto em termos políticos quanto técnicos. Além de inviável não garante a restauração da governabilidade principalmente se não houver também uma mudança do Congresso nacional. As propostas servem apenas para tumultuar mais ainda a complicada interinidade da Presidência da República. E tem sido utilizada por Dilma para convencer alguns senadores a derrubarem o impeachment com a simples promessa de que “poderia apoiar a convocação do plebiscito”. O que pressupõe que ela volte ao poder com suas conhecidas lambanças. Não, obrigado!