Editorial

Com menos de um mês de empossado como presidente da República, após o traumático processo de impeachment e ainda com forte questionamento da oposição, Michel Temer conseguiu redirecionar o debate político no Brasil com a criação de uma agenda positiva – a educação – através da edição da Medida Provisória da Reforma do Ensino Médio (Medida Provisória 746). Excetuando a discussão completamente secundária sobre a não obrigatoriedade de algumas disciplinas (arte e educação física) no ensino médio (que pode ser revista no Congresso), quase não existem discordâncias sobre os fundamentos e o conteúdo dessa Medida Provisória. Embora haja gritos e protestos de movimentos sociais, entre os educadores é muito grande a concordância em relação à necessidade de redução do número enorme de disciplinas obrigatórias, acompanhada do aumento da carga horária total, e sobre a flexibilização das disciplinas na segunda metade do ensino médio, permitindo que os jovens escolham suas preferências,  concentrem-se no aprendizado e definam a base da sua formação para o seu futuro. No Ministério da Educação, mesmo nos governos anteriores, já estava madura a proposta de reforma do ensino médio, reforçada e antecipada agora com os desastrosos resultados do IDEB – Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico. As críticas têm-se praticamente limitado ao processo, entendendo que a Medida Provisória reduziria o debate público e apressaria uma decisão que, pela sua relevância, demandaria muito mais tempo de reflexão e maturação. Será? O certo é que, como argumentou o ministro Mendonça Filho, o recurso à Medida Provisória obriga o Congresso Nacional, dominado pela pauta do ajuste fiscal e logo envolvido na discussão sobre reforma da previdência, a incluir a educação (a reforma do Ensino Médio), como pauta urgente deste semestre. E na direção contrária ao congelamento do orçamento, a Medida Provisória define a alocação de recursos adicionais da União para o financiamento da implementação das escolas em tempo integral. A Câmara de Deputados e o Senado Federal terão quatro meses para discutir, ouvir especialistas e interessados, deliberar e definir o formato final das regras do ensino médio. O ajuste fiscal e a reforma da Previdência são fundamentais para tirar o Brasil do buraco e, pela emergência, tendem a predominar no debate. Mas lidam com o passivo acumulado, enquanto a educação (especialmente o Ensino Médio) trata do futuro e do desenvolvimento do Brasil. Esta é a agenda positiva.