O presidente eleito da Venezuela, Hugo Chavez, gravemente enfermo e ausente do país, mesmo sem assumir o cargo, assina um documento oficial nomeando o vice-presidente e o Ministro das Relações Exteriores. É muito estranho, mas foi autorizado pela Suprema Corte do Estado venezuelano dando aparência de legalidade. Estranho, como foi a velocidade do impeachment do presidente Fernando Lugo do Paraguai no ano passado, legalmente aprovado pela esmagadora maioria do Parlamento, e a cassação do Presidente da Honduras Manuel Zelaya há três anos, também oficializado pelo Congresso hondurenho. Parecem formas diferentes em condições diversas, mas todas expressando manipulação política dentro dos vazios e imprecisões das regras democráticas. Melhor do que os antigos golpes militares escancarados, claro; mas, com essa mistura de velho populismo com manobras modernas de legitimação política e jurídica, muito longe de exemplar processo democrático. O mais estranho de tudo, no entanto, é a ambivalência da política externa brasileira, apoiando com entusiasmo o desajeitado processo venezuelano – do moribundo líder bolivariano – enquanto ataca como golpe o impeachment (também esquisito, mas legítimo) dos amigos políticos Lugo e Zalaya.