Luiz Otavio Cavalcanti

Seja bem-vindo, Aramís. Tu que ingressaste no mundo nessa segunda feira. Corajosamente. Inusitadamente. Cercado de limitações. Cingido por temores. Sem sequer conseguir chegar à maternidade. Mas chegaste ao mundo.

Aramís, filho de Edjane e João Paulo, nasceu com três quilos e duzentos gramas. Eram quatro horas e meia da manhã. Sua mãe começou a sentir as dores do parto uma hora antes. Comunicou ao pai. Ligaram para parentes a fim de saber quem tinha carro com combustível. Ninguém tinha. Apelaram para vizinhos. Nada.

Então, resolveram arriscar um ônibus. João Paulo segurou Edjane pelas costas e a sentou num carro de mão. Saíram em direção à avenida principal que liga Olinda a Paulista. Não levavam roupinhas de recém-nascido. Não carregavam senão uma ânsia incontida. Que projetava a marca de um enigma. Escrita no ar de madrugada insone, ambígua.

Ao chegarem à avenida, João Paulo ajudou Edjane a sair do carro de mão. Ela recostou seu corpo suado no suporte do ponto de ônibus. E exerceram a espera. Não espera qualquer. Não espera feita de trivialidades. Mas espera costurada na lida, amaciada no coração e delineada no sonho de lapidar o futuro.

Depois de alguns minutos, horas no relógio da emoção da mãe e do pai, um ônibus apontou dois faróis. E embarcou o casal. João Paulo ajeitou Edjane em duas cadeiras. O ônibus partiu. Logo, a mãe começou a sentir acelerarem-se as contrações. O pai pediu ao motorista que parasse. Não dava tempo de chegar à maternidade.

João Paulo pegou um lençol que botara numa bolsa. Estendeu-o no chão do veículo e preparou-se para acolher o mistério da concepção. Aramís é o quarto filho deles. Entregou-se sem muita dificuldade aos braços do pai, que o embalou no carinho inicial.

Os clarões do sol da manhã entravam pelas janelas do ônibus. Espécie de saudação calorosa ao novo habitante metropolitano.

Seja bem-vindo, Aramís. Tu que não conheces, nem provaste, os desafios desta terra de homens alucinados. Para viagem intimorata de desdita e beleza. E, mesmo na era de desconcerto, lanças tua resposta, clara, transcendente, inapelável: vida!