João Rego

Protestos político 1968.

SOBRE AS IDEOLOGIAS

As ideologias têm a função de mascarar parte da realidade, encobrindo-a, deixando apenas uma face pela qual o sujeito é por ela capturado, operando uma componente perversa e alienante na construção da visão de mundo desse sujeito. Mecanismos semelhantes atuam também na mitologia, nas religiões e até mesmo na ciência – esta, com a vantagem de ser movida pelas dúvidas e incertezas. Ninguém escapa, pois sempre precisamos de algo que dê suporte a nossa inexplicável e fugaz existência. O perigo das estruturas fundadas na certeza (a política e as religiões) é que o sujeito se encerra nelas, numa tentativa possível de suportar o enorme fardo de saber-se destinado para a morte – fechando-se para o outro que pensa diferente dele. Ou seja, quanto mais certeza temos sobre nossa visão de mundo, mas nos afastamos da possibilidade de um convívio democrático.

É este o enorme desafio que a democracia brasileira vai ter que enfrentar, uma intolerância ideológica que dividiu a sociedade.

Sábios e ignorantes, arrogantes e humildes, santos e pecadores…estamos todos no mesmo barco…O essencial é compreendermos o que nos une, nossa humanidade – e sobre ela atuarmos.

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MUITO ALÉM DE LULA.

A democracia brasileira enfrentou incólume mais um grande obstáculo: a prisão de Lula. Acompanhei, como a maioria dos brasileiros, a sua longa e tensa resistência à prisão. Não é simples para qualquer democracia prender um personagem político de peso como é Lula.

Imaginem a Itália, seguindo os trâmites normais da justiça, prender um Mussolini – adorado fanaticamente pelos seus seguidores. Ou a Venezuela prender Chaves.

Sinto por aqueles que o seguem e certamente sofrem, pelos que pensam ser uma agressão ao seu ídolo-líder.  Mas a Lava Jato deve seguir sua estratégia de ruptura do pacto secular oligárquico de setores da elite que vêm saqueando o Estado Brasileiro – deixando um rastro de miséria e exclusão social estrutural.

Que venham novas ações, principalmente o fim do foro privilegiado, que encoberta as falcatruas de muitos outros políticos já com provas e processos em curso. Temer, Aécio, Renan e muitos outros escudam-se em cargos para, como vermes em seus porões de impunidade, fugirem à luz da justiça.

Estamos presenciando história em plena tessitura de novas estruturas mais justas, sólidas e democráticas.

Vejo no horizonte as novas gerações de políticos, empresários e cidadãos que, nesse novo ambiente institucional, construirão o futuro de uma nação mais justa e democrática. E nesse futuro não haverá espaço para ideologias anacrônicas e ídolos salvadores da pátria.

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MARX, LULA E O ABISMO IDEOLÓGICO.

Desde Marx, quando, com seu brilhantismo intelectual, sistematizou um conjunto de pensamentos capaz de revolucionar a sociedade em direção a um patamar mais “justo e igualitário”, seus adeptos, em diversas correntes, vêm, por meio da militância política, tentando alcançar esse objetivo.

Todos cheios de “boas intenções” seguiram cegos pelo “determinismo histórico”, como disse Vandré, “ a certeza na frente e a história na mão”, e o que era para ser um regime libertário para a humanidade transformou-se num indescritível rastro de sangue, fecundado pelos regimes autoritários.

Emparelharam-se com a “Santa Igreja Católica” e seus séculos de inquisição – esta também movida pelas “boas intenções”.

O capitalismo, em seu ímpeto predatório em busca do lucro, também deixa seu rastro de miséria, porém construiu um legado valioso, com capacidade de autor regulação das suas estruturas de poder: a democracia.

O PT e setores da esquerda anacrônica, como são os bolivarianos, vivem como se no século XVIII estivessem, sem perceberem que o modo de produção capitalista e seu subjacente regime legal – a democracia- deu enormes saltos qualitativos, construindo sociedades mais justas e livres, acolhendo a diversidade humana.

Hoje o claudicante líder Lula e o PT, acuados pela dolorosa “prova da realidade” de que suas ideologias são capengas, ineficazes para lidar com uma sociedade extremamente complexa em sua diversidade, perpassada globalmente pela tecnologia e a informação, erram pelos escuros becos da história, tateando com seu “mito de pés de barro”, na escuridão da sua cegueira ideológica.

Cairão no abismo, ou serão capazes de uma autocrítica salvadora? Sinceramente, torço pela modernização do pensamento de esquerda, fundamental para a riqueza da diversidade democrática.

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