Editorial

Olinda é terreno fértil para as artes, que se mostra com espalhafato no carnaval, mas está mesmo é no cotidiano das escolas de música, das orquestras, das procissões, das serenatas, de pai para filho. Nessa bela cidade colonial nasceu Naná Vasconcelos. Aprendeu a gostar de música com o pai e, ainda criança, acompanhava-o em uma banda tocando bongô e maracas. Aos 12 anos já tocava bateria, porém encantou-se de verdade foi com os tambores do maracatu e os sons do berimbau, que tocava a seu modo. Viveu música desde que se entendeu por gente. “A música é que mexe com os sentimentos, a música é disciplina, a música educa”, declarou em 2011. Como tantos nordestinos, sua carreira musical deslanchou no Rio de Janeiro, para onde emigrou com 23 anos, em 1967. Lá, na agitação cultural da segunda metade dos anos sessenta, encontrou músicos brasileiros que depois se tornaram parceiros importantes, como Milton Nascimento e Egberto Gismonti. O ponto alto de sua carreira foi, contudo, fora do Brasil. Na França e principalmente nos Estados Unidos, país onde rapidamente foi assimilado como “a Brazilian Latin jazz percussionist, vocalist and berimbau player”. Naquele país, formou o prestigiado grupo de jazz Codona; foi eleito oito vezes pela Revista Downbeat o melhor percussionista do mundo; e em 2011 ganhou o Grammy Latino. Não é pouca coisa. O resultado de sua carreira musical perdura em 27 discos gravados e mais 39 participações em gravações com monstros sagrados do jazz, além de parcerias brasileiras. Um dia, o apelo da terra natal foi mais forte. Voltou para reencontrar o maracatu. Fez harmonia entre Nações de Maracatu concorrentes, que por 13 anos se apresentaram na abertura do carnaval recifense sob a batuta do grande mestre. Já em tratamento do câncer que o levou à morte esta semana, ainda fez aquela tradicional apresentação de abertura do carnaval do Recife em fevereiro último.

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