A greve dos caminhoneiros desta semana mostrou como a economia brasileira depende da eficiência, da qualidade e do custo do transporte de carga que forma uma enorme e complexa malha de 1,3 milhões de caminhões. Cerca de 85% do sistema de transporte de carga é composto de caminhoneiros autônomos. O transporte de carga é o sistema circulatório da economia brasileira, articulando todas as cadeias produtivas com suprimento de matérias primas e o abastecimento do mercado para consumo da população. Um estrangulamento deste sistema provoca colapso econômico com enorme desperdício de mercadoria e elevação dos preços dos produtos, como parcialmente ocorreu em várias partes do Brasil. Contudo, salvo pelas deficiências e estrangulamentos das nossas rodovias, a crise do setor de transportes não é diferente das dificuldades dos demais setores da economia e de toda a população brasileira, decorrente da combinação de estagnação e inflação. O desempenho (receita e despesa) dos caminhoneiros e empresas transportadoras flutua em torno de dois fatores opostos: o preço do frete que paga pelos seus serviços, e o custo do diesel que move os seus veículos. A queda do preço do frete, principal reclamação dos caminhoneiros, não é valor administrado por governos, mas resulta da estagnação econômica com redução da produção e do transporte de carga. O aumento da tarifa do diesel, por sua vez, embora necessário depois de anos de contenção artificial, veio através do aumento dos impostos (principalmente da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico), que poderia ser evitado, pelo menos no combustível que move a economia nacional. Além disso, parte dos caminhoneiros está endividada com a compra a crédito que tem sido fortemente estimulada e facilitada pelo governo e que provocou, como consequência, um excesso de oferta de serviços de transporte de carga, enquanto a demanda caia pela recessão econômica. Sem solução sustentável no curto prazo, a crise do setor só vai terminar quando a economia voltar a crescer e os investimentos em infraestrutura ampliarem e melhorarem a malha de rodovias do Brasil.