Editorial

De acordo com Ciro Gomes, Lula e o PT estão convidando “o Brasil para dançar uma valsa na beira do abismo” quando insistem na candidatura do ex-presidente condenado em segunda instância e, portanto, inelegível de acordo com a Lei da Ficha Limpa (entrevista recente na GloboNews). Trata-se de uma “inelegibilidade chapada”, segundo o ministro Luiz Fux, do STF-Supremo Tribunal Federal, e presidente do TSE-Tribunal Superior Eleitoral. No seu melhor estilo, Ciro afirma ainda que o lulismo “está virando uma religião” e um “caudilhismo do mais barato”, quando aposta numa candidatura legalmente inviável, tumultuando as negociações políticas e confundindo o eleitorado. E, mais do que isso, submetendo o jogo eleitoral a um movimento pela libertação do líder máximo da nova seita. O ressentimento de Ciro, preterido e isolado politicamente por uma manobra de Lula, não tira a força de sua crítica da estratégia “irresponsável” do PT. Da carceragem da Polícia Federal de Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua sendo o grande articulador político das diversas correntes do lulismo, e dos oportunistas de várias correntes, que tentam se agarrar na sua popularidade. Mas, convenhamos, não são apenas o PT e Lula que convidam o Brasil para esta arriscada valsa à beira do abismo. A explosividade verborrágica de Ciro e o furor reacionário de Jair Bolsonaro convergem neste movimento que, junto e em confronto como PT, pode levar o Brasil ao desastre. Embora toda eleição carregue sempre alguma carga emocional, na medida mesmo em que envolve disputas de interesses, a alimentação deste clima de confronto e rancor serve apenas para confundir o eleitorado, e constitui, no fim das contas, uma ameaça à democracia, uma caminhada à beira do abismo. Neste momento delicado da História do Brasil, precisamos, bem ao contrário, de uma mensagem de serenidade, de análise e diagnóstico sem paixões, de um debate respeitoso e fundamentado, que ajude os eleitores a uma escolha consciente sobre o futuro do país.