Há um abismo profundo entre a Dilma candidata e a Dilma presidente, a segunda negando tudo que a primeira prometeu aos eleitores brasileiros. O que a Dilma presidente está fazendo nestes poucos dias do seu mandato era denunciado pela Dilma candidata como o projeto perverso da oposição: o terrível ajuste fiscal, necessário, diga-se de passagem, devido aos desmantelos da Dilma candidata/presidente. A “nova matriz econômica” inventada por Dilma do primeiro governo e candidata ao segundo mandato, foi vencida agora pelo necessário choque ortodoxo das finanças públicas para enfrentar a desarrumação herdada dela mesma. Entretanto, até o momento as principais medidas do governo estão concentradas no aumento da arrecadação e das tarifas públicas e não na redução das despesas correntes (o corte de gastos anunciado no início do ano é temporário, enquanto o orçamento não for aprovado pelo Congresso) e no aperto monetário (aumento da taxa de juros). Assim é o contribuinte, pobre ou rico, quem paga a conta das dificuldades fiscais do governo, embora o Brasil já tenha uma carga tributária de 36% do PIB. As medidas são corretas e necessárias, mas insuficientes e tendenciosas na medida em que não são acompanhadas da necessária redução das despesas públicas. Para não evidenciar a enorme contradição entre as duas Dilmas, a presidente silencia numa espécie de crise de identidade ou como esperteza para não se queimar com medidas impopulares. Não será surpresa se militantes petistas isentarem Dilma da responsabilidade pelo ajuste fiscal jogando tudo para o colo do ministro Joaquim Levy que anunciou as medidas. Não foi assim no primeiro governo Lula quando não faltaram petistas acusando o banqueiro Henrique Meirelles pela política macroeconômica? De qualquer forma, considerando as dificuldades macroeconômicas e fiscais do Brasil, os brasileiros devem comemorar que a Dilma presidente ignore as promessas e fantasias da candidata.