Elimar Pinheiro do Nascimento

The great day of his wrath – John Martin.

Estamos prestes a enterrar a democracia, a desfazer o legado da luta contra o regime militar, a jogar fora a constitui??o cidad?. Adentramos o esfor?o de destruir a pol?tica, pois o sentimento predominante ? de indigna??o e ?dio contra as institui??es democr?ticas, contra o Parlamento, contra a Imprensa, contra a Justi?a. De p?, restam apenas a religi?o e as For?as Armadas, sem citar o crime organizado. Ambas habitadas por fortes segmentos sociais antidemocr?ticos. As resist?ncias a este suic?dio parecem in?cuas. Manifestos em prol da prud?ncia, da responsabilidade, da democracia, apesar de bonitos, louv?veis e necess?rios, aparentam in?cuos. No centro democr?tico nenhuma express?o consegue al?ar voo junto ao eleitorado, dominado pelo simplismo, pela idolatria das solu??es f?ceis e falsas. A solu??o ideal n?o existe: a ren?ncia dos candidatos do centro em favor daquele mais bem colocado nas inten??es de voto. Cada qual julga que haver? um fato novo que o colocar? como o mais bem colocado. Ou que as pesquisas est?o erradas. E o candidato de centro, que ocupa o primeiro lugar entre os ?ltimos nas pesquisas eleitorais, tem um programa pr?ximo ao populismo dos candidatos preferidos. ? como se tiv?ssemos que escolher entre a cat?strofe e o desastre, na melhor das hip?teses.

? tarde demais. Se Bolsonaro for eleito os petistas e seus adeptos dir?o que as elei??es foram ileg?timas porque seu l?der estava injustamente preso. Se Haddad ganhar os bolsonaristas dir?o que as elei??es s?o ileg?timas porque seu l?der foi esfaqueado por um esquerdista. E quem estiver na oposi??o tentar? colocar fogo no Pa?s.

N?o adianta buscar culpados no passado: os petistas que criaram o maior assalto aos bens p?blicos, os que votaram pelo impeachment da Dilma ou a gen?tica desviante do Presidente Temer. N?o resolve nada.

? tarde demais. As for?as democr?ticas est?o arrasadas. As for?as da concilia??o em desprest?gio. A Igreja Cat?lica prefere abandonar seu papel de negociadora para ser protagonista de um dos lados, e as outras igrejas crist?s fazem o mesmo. O judici?rio se partidariza, se politiza, e se esfacela. N?o existe mais uma corte m?xima do judici?rio, mas v?rias. Ou pelo menos duas, o ?den e o Inferno. Atos descabidos e imorais s?o praticados a luz do dia por aqueles que deveriam preservar as institui??es democr?ticas.

Os mais prudentes j? fugiram para o exterior. Os Estados Unidos e Portugal enchem-se de brasileiros que encantam seus amigos e parentes com relatos do dia a dia que parece, aos que ficaram, imposs?veis de imaginar por aqui. O ?xodo ? uma sa?da, para poucos.

? tarde demais. A democracia mostrou-se in?cua, incompetente em resolver os problemas b?sicos da popula??o: seguran?a, renda e sa?de. Ao mesmo tempo em que pa?ses n?o democr?ticos como China e Singapura crescem, reduzem a mis?ria, melhoram a qualidade de vida de suas popula??es. Ao inverso de outras ditaduras latino americanas, africanas ou ?rabes que aumentam a inseguran?a e a mis?ria de seus habitantes.

? tarde demais? Talvez n?o, se houver paci?ncia e bom senso entre lideran?as pol?ticas mais respons?veis, entre intelectuais mais escutados, entre lideran?as populares mais experientes, entre ve?culos da m?dia mais comedidos que tiverem a paci?ncia de pacificar o ambiente, qualquer que seja o resultado eleitoral. As institui??es democr?ticas, embora desgastadas, ainda est?o de p?. E talvez possam enfrentar o aumento da radicaliza??o e dos protestos que vir?o com a incapacidade do ?salvador da p?tria? em construir as solu??es que se quer imediatas.

Ou talvez as pesquisas eleitorais n?o tenham apreendido movimentos sutis de mudan?a que se revelar?o nas urnas.