Elimar Pinheiro do Nascimento

Como de costume, após as eleições, a mídia se volta para discutir os seus resultados, regida por dois parâmetros: as surpresas e as consequências dos resultados. A mídia, com seus artigos, análises e opiniões, chamou atenção para cinco grandes novidades nas presentes eleições municipais: a derrota do PT; a vitória do PSDB, e particularmente de Alkmin em São Paulo; a derrota de Eduardo Paes e do PMDB no Rio de Janeiro; o fortalecimento da dispersão partidária e o número elevado dos “não votantes” (abstenções, nulos e brancos). Será que são realmente novidades, e o que elas significam? Quais os seus prováveis desdobramentos?

A derrota do PT, que tinha 644 prefeituras e ficou com 256, não pode ser apresentada como uma surpresa, depois de todo o massacre que sofreu com a Operação Lava Jato e a incompetência governamental de Dilma Rousseff. Surpreende, contudo, a impotência de seus líderes. No Rio e Porto Alegre, a presença de Dilma fez seus candidatos encolherem. Jandira tinha 9% de intenções de voto e obteve 3,7% e Raul Pont em Porto Alegre tinha 22% de intenções de voto e alcançou 16,37%. O único lugar em que uma candidata da Dilma cresceu, com sua presença, foi em Salvador, Portugal que tinha 12% nas intenções de voto terminou com 14, 56%. Mesmo aí, porém, não se pode atribuir à sua presença a melhoria do desemprenho da candidata do PCdoB, já que ela contava com o apoio do governador. A presença de Lula no Nordeste também não melhorou o desempenho dos candidatos do PT. Das nove capitais do Nordeste o PT apresentou candidatos apenas em cinco. Em Fortaleza, Natal e Joao Pessoa os seus candidatos ficaram em terceiro lugar. Em Maceió, ficou no 5o. Só ficou no segundo turno em Recife. A presença do Lula nesta cidade não aumentou os votos de seu candidato, aparentemente até diminuiu. É verdade que o quadro pode melhorar porque o partido ainda disputa o segundo turno em sete cidades. Porém, independentemente destes resultados as divergências internas devem aumentar, e a liderança de Lula poderá ficar abalada. É possível, também, que o PT não tenha um candidato cabeça de chapa em 2018, crescendo as chances de que busque a alternativa já criada pelo Lula, o cearense e pouco previsível, Ciro Gomes.

A vitória do PSDB também era esperada. Não foi só em São Paulo, onde venceu de forma avassaladora. O partido foi o mais vitorioso nas capitais e cidades com mais de 200 mil habitantes. Os tucanos, que têm hoje 18 destas prefeituras, já elegeram candidatos em 14 municípios no primeiro turno e ainda têm mais 19 disputas no segundo. O partido pode chegar a 30 destas cidades para administrar a partir de 2017. Mas, a vitória de Alkmin é, de fato, surpreendente. Poucos esperavam, salvo nos últimos dias, que João Doria, que iniciou a campanha com 5%, chegasse ao segundo turno. Doria ganhou em primeiro turno,53%, contra duas ex-prefeitas e o prefeito atual. Foi uma grande aposta do governador de São Paulo, porque o fez contra os grandes caciques do PSDB, leia-se, Fernando Henrique Cardoso, Aécio Neves e José Serra. Portanto, é o grande vencedor. Com isso, a situação do Aécio debilita-se. E se a delação do Marcelo Odebrecht sai, sua situação pode piorar. Tem chances alguém com o perfil de Alkmin em 2018? Provavelmente não.

A derrota de Eduardo Paes e do PMDB no Rio não era esperada, mas não foi uma grande surpresa. A aposta que o prefeito fez foi da mesma natureza da aposta do Alkmin, mas com resultado inverso. Seu candidato, conhecido como “batedor de mulheres”, não chegou no segundo turno. O PMDB perdeu, inclusive, na representação da Câmara, onde terá menos seis vereadores. Mas, esta derrota não ocorreu no resto do País. O PMDB sai dessas eleições um pouco maior do que antes, e continua a ser o maior partido municipal. Uma capilaridade importante para as eleições de 2018. Com a derrota do prefeito do Rio o PMDB perde um possível candidato à presidência, ficando cada vez mais sem nomes para 2018. Vão adotar o Serra?

O aumento do número de abstenções, nulos e brancos cresceu. Já era alta, tornou-se pior. Em oito capitais o resultado foi semelhante ao de São Paulo, em que a soma destes votos é maior do que o prefeito eleito. Sinal claro da insatisfação dos eleitores com seus representantes, mais um sinal do desgaste da política. Sobretudo entre os jovens, que algumas pesquisas apontam como sendo 7 em dez os que não se interessam pela política. Isso pode significar o espaço para um “não político” nas eleições de 2018. Mote adotado por João Doria, e por alguns analistas considerado como um fator altamente relevante na extraordinária vitória deste “gestor e não politico”. Quanto novos gestores teremos em 2018?

Finalmente, a dispersão dos partidos. Esta também não é uma novidade, pois é uma tendência desde os anos 1990, e que apenas continua. Tínhamos seis partidos nos anos 1980, e agora já são 35. Cinco novos partidos elegeram prefeitos, entre os quais o tal de Solidariedade, com vitória em mais de 60 municípios. Muitos partidos pequenos, como o PROS, ou médios, como o PSB, cresceram. O espectro partidário criado torna praticamente impossível qualquer governabilidade no plano nacional. Seremos capazes de criar barreiras para os pequenos partidos não terem acesso ao fundo partidário e ao tempo de TV, que faz com que muitas legendas existam? Nós os obrigaremos à fusão, reduzindo o número de opções partidárias? Estas, entre outras mudanças, são indispensáveis para se ter um panorama político distinto em 2018.

Contudo, entre hoje e 2018 a estrada é larga, como dizem os espanhóis. Muita água ainda passará embaixo da ponte. Não temos a mínima ideia se o governo Temer conseguirá debelar a crise, e se o País voltará a crescer e o desemprego a cair. Se isso acontecer, a situação dos partidos anti-impeachment será muito difícil. Caso contrário, uma força se aglutinará em torno de pelo menos dois candidatos da esquerda tradicional. Sem contar com os novos gestores.

Teremos muitas novidades em 2018? O quadro atual não aponta neste sentido. O que vimos foi a reprodução da velha política. No entanto, como diz o velho matuto, é possível, é possível.

(*) Sociólogo, professor no Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília.