David Hulak

E não é que Dona Dilma levantou uma lebre? Ela, refiro-me à mamífera lagomorfa do gênero Lepus, claro, já era vista aqui e ali, correndo na moita. Mas misturando espionagem com internet ocorreram pronunciamentos variados e logo às vésperas da reunião de Genebra, preparatória à Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, que deverá se reunir em 2014, no Egito (! ). Este é um fórum para governança e uso da internet.

Quem toma conta da rede mundial, a que permite sucessivo crescimento de acesso à Revista Será, é uma tal de ICANN, Internet Corporation for Assigned Names and Numbers. Essa organização, pública e privada, inclusive composta por governos nacionais, tem ido além de atribuir nomes e gerenciar uma possível babélica confusão entre Domínios para orgs, coms, edus etc.

Claro que atua a partir dos EUA e quem a domina é o nosso Grande Irmão Branco do Norte, dizem. Quem a regula, em tese, é o tal do Mercado, dizem também.

Desde muito que países autoritários de “democracia relativa” e mesmo outros apenas relativos, como a Rússia, a China e o Uzbequistão propugnam uma nova forma de regulação para o que circula “online”. Regulação da internet não tem uma Agencia específica e é tratada, caso a caso, pelas Agências de Comércio, de Telecomunicações, de Propriedade autoral ou indústrias e assim por diante.

Deverá haver uma para a Internet? Para regular o que? Produzirá declarações e normas sobre ética weberiana*; segurança individual de usuários em cada uma de suas máquinas, segurança das nações, proibição de spams, propaganda, utilização de cadastros alheios? Haverá investimento para essa danação de criptografia e em novos aperfeiçoamentos de defesa?

Já substituíram o alfanumérico de maiúsculas e minúsculas por olho, dedo e voz. Dará certo? Sei não, pois para cada criptógrafo sempre haverá um descriptógrafo, marcando por zona ou homem a homem.

Haverá condenação à espionagem? Ora, a internet não tem nada com esse tipo de malfeito, é apenas instrumento.

Não sei se os filisteus tinham tesoura ou se Dalila usou apenas uma boa faca, amolada para tosar Sansão. Mata Hari, coitada, usou a sua nudez; James Bond, bricabraques eletroeletrônicos cada vez mais interessantes e atualizados ao longo de sua longa carreira cinematográfica.

Os operadores do pós 11 de setembro, escudados na Lei Patriótica, usam fartamente a web, e eu acho que até a ABIN o faz. Será? Essa bisbilhotice virou tão banal quanto o mal.

Os mais cabeça dentre os seiscentos colaboradores e comentadores desta Revista (contados no mês de setembro do corrente ano, uma boa marca, mas ainda não um recorde) perdoar-me-ão: admito que vejo seriados e outros  escapismos na TV! Neles, hoje, é arroz de festa agentes que defendem a lei, os bons costumes, a democracia e as potenciais vítimas de assassinos seriais, penetrem em qualquer banco de dados oficiais ou empresarias com a maior desfaçatez e ainda acham graça. Como deu na imprensa que os babacas da Segurança Nacional americana se contorceram de rir e se amostraram por terem bisbilhotado a nossa Presidenta.

Ferraram-se, no entanto, diante de um novo Garganta Profunda e um jornalista tipo Woodward & Berenstein – ô raça podre – que os denunciou. Já antes dos seriados modernos, na literatura, a ousadia de jornalistas e haquerismo da notável personagem Lisbeth Salander desmontaram poder e corrupção na Suécia. “Em passant”, me refiro à  trilogia Millennium, por Stieg Larsson. Quem não leu, recomendo. É semi cabeça, bem escrito e emocionante.

Enfim, creio que a internet é incontrolável e a espionagem coisa de mau caráter, mas isso faz parte da natureza das relações humanas. Fica aberto um novo nicho de mercado para criptógrafos e hackers em constante peleja, como Tom e Jerry.**

Os usuários que se cuidem, comprando égides anti-intrometidos, cada vez mais caras.

*weberiana, neologismo, refere-se a world wide web e não tem nada com  Max Weber.

** Tem nada com os demais acima, mas também deu na imprensa que há quem propugne deixar de exibir T&J para proteger as crianças da violência. Vôte.