Brasília parece que se situa em outra dimensão, descolada e bem longe do Brasil real. Enquanto os brasileiros pedem medidas sérias e drásticas pela melhoria da qualidade de vida e para acabar com a corrupção e a leniência políticas, a Câmara de Deputados mobiliza suas energias para tornar impositiva, ou seja, de liberação obrigatória pelo Planalto, as chamadas emendas parlamentares, aqueles projetos do interesse de cada deputado para agradar as suas bases nos municípios. E nós com isso? Os deputados estão certos quando acusam o governo de utilizar as emendas parlamentares como moeda de troca nas votações do seu interesse, liberando os recursos para os fiéis seguidores que provem lealdade. Mas a prática das emendas parlamentares esconde um problema mais grave e estrutural: a enorme concentração de receita pública na União (mais de 60% do total) que torna o orçamento federal um depositário desconexo e fragmentado de milhares de pequenos projetos de interesse estadual e municipal, que vai de calçamento de uma rua a construção de um pequeno centro esportivo. Para o deputado, por outro lado, a emenda parlamentar forma a sua base político-eleitoral nos municípios. Se o Governo federal compra o voto do deputado com a liberação da emenda, o deputado compra o apoio dos prefeitos com a emenda. A verdadeira distorção estrutural está no sistema federativo com alta dependência das instâncias estaduais e municipais. E a resposta, longe desta briguinha do Congresso com o Executivo, leva a uma revisão do sistema federativo brasileiro, um novo Pacto Federativo.

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