Editorial

A esta altura dos acontecimentos, não interessa se a denúncia contra o presidente Michel Temer é frágil do ponto de vista jurídico (como afirmam alguns juristas), nem mesmo se é produto de uma eventual manobra interesseira do Procurador Geral da República (como acusam os aliados do governo). A decisão sobre o destino do governo Temer é política e, como tal, deve levar em conta que ele não tem mais autoridade nem legitimidade para governar e conduzir o país, especialmente num momento tão delicado de crise econômica, social e moral. Como ele resiste à renúncia do mandato, que seria um gesto de dignidade para a sua biografia, encurtando a instabilidade e a incerteza no país, cabe ao Congresso assumir a responsabilidade de interromper o seu mandato, autorizando o julgamento pelo STF-Supremo Tribunal Federal da denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República. De acordo com as regras constitucionais, assume interinamente o presidente da Câmara de Deputados, Rodrigo Maia, por um prazo de até 180 dias, enquanto segue o processo e o julgamento no Supremo. A agonia ainda se arrastaria por alguns meses até a decisão do STF, mas dificilmente Michel Temer teria condições de voltar ao posto, de modo que Rodrigo Maia poderia governar com alguma desenvoltura, principalmente se forem confirmadas as notícías de um acordo político do seu partido, o DEM, com o PSDB de Tasso Jereissati, garantindo a manutenção da política econômica. Com a eleição indireta, após a destituição final de Michel Temer, o Brasil ainda pode viver um período incômodo de incerteza e instabilidade, que será tanto menor quanto maior for a capacidade desta aliança DEM-PSDB para atrair outros partidos e neutralizar alguns adversários. Em qualquer alternativa, dificilmente haveria clima político para aprovação das reformas estruturais no formato original, mas não seria improvável um entendimento em torno de alguns pontos centrais de menor resistência e controvérsia. Neste cenário, a economia pode se beneficiar da sensação de continuidade política, possível, paradoxalmente, pela mudança dos personagens no governo.