Conselho Editorial

A morte de um Presidente da República em exercício desperta um forte sentimento de perda, tanto por parte dos aliados, como até mesmo dos adversários. Numa democracia com instituições sólidas e estáveis, a transição é tranquila e segura. Quando se trata, porém, de um presidente de perfil populista e personalista, como Hugo Chavez, sua morte pode desencadear instabilidade e grave crise política, pelo vazio que provoca na estrutura do poder. Ao longo da sua vida política e de quase 14 anos como presidente da república, com seu estilo agressivo de caudilho, Chavez dividiu a Venezuela entre fanáticos seguidores e exaltados inimigos, deixando agora uma orfandade política. Orfandade que se estende à velha esquerda latino-americana, desorientada e carente de bandeiras e líderes, depois do desmonte do bloco soviético, do desencanto com Cuba e da expansão do capitalismo selvagem chinês. O governo Chavez não tem nada de socialismo. As melhoras sociais registradas na Venezuela, tirante o palavreado ideológico e a farra do petróleo, não são muito diferentes do que ocorreu em vários outros países da América Latina, como Chile, Uruguai e Costa Rica. Especialmente na última década, o governo Chavez se beneficiou dos elevados preços do petróleo para ampliar políticas e projetos distributivos. Reduziu a pobreza ao mesmo tempo em que formou sua imagem do grande pai e protetor dos pobres. O populismo morre com o caudilho, mas ainda vai despertar muitas emoções. E a maldição do petróleo ainda deve condenar a Venezuela e o populismo rentista dos bolivarianos, agora sem Chaves, à total dependência das oscilações dos preços internacionais.