David Hulak

The Rain Room – MOMA.

Recife, 31 de maio de 2018.

Cão danado, todos a ele. Antes do forrobodó causado pela greve dos caminhoneiros não li ou ouvi o cacete quebrando nas costas de Parente e da Petrobrás. Agora querem a sua cabeça e privatização ampla geral e irrestrita. O anátema lançado flui. Os mais lúcidos, no máximo, afirmam que a empresa da qual sou acionista minoritaríssimo errou na dose, mas não me alertaram contra durante todos os dias seguidos de aumentos de preço.

Falando ou escrevendo os Comentaristas do bem nos explicavam que por conta da alta do dólar, das sanções trumpistas ao Irã e da falência da PDVESA, teria que ser assim mesmo.

Acho que havia um cuidado em manter intocável a única estatal que poderia ser mostrada incólume à locupletação pela sanha eleitoral permanente como ocorreria em todas as demais. Todas as que “furam poços” poderiam ser escamoteadas.

Sérgio Buarque, no JC, desancou os governadores do Nordeste por sua hipocrisia. Bem feito e bem escrito.  Faltam ainda muitos outros dissimulados a denunciar.

Renúncia ou impedimento de Temer, 64 redivivo, caça aos “culpados” pela crise de desabastecimento, são brados retumbantes, agora. Correndo atrás do prejuízo, o CADE descobriu na semana passada que há cartéis, cupidez de intermediários e, indo longe demais, desnecessários frentistas.

E os buracos, os que ficam mais abaixo?

Malditos intermediários! Se aproveitam das refinarias estatais e das pobres Usinas de álcool para sacrificar o povo.

Em logística, onde há regulamentação e fiscalização, há um elo do sistema econômico chamado de Distribuição e que é parte de uma cadeia necessária por eficiência e eficácia.

Fico imaginando cada refinaria e cada Usina competindo para abastecer o posto da esquina. Não vai dar certo ou adotarão, como faz o crime organizado civilizado, a divisão de territórios, em paz. Não como os bandidos de antigamente em Chicago ou como hoje no Rio de Janeiro, mas, como no primeiro mundo, diplomaticamente corretos.

No buraco da ineficácia dos produtores e negociantes do anidro se clama por subsídios e outras benesses para manter-lhes ineficiências, caso contrário ampliarão a compra de álcool de milho, assim que o dólar cair, pois o preço é mais barato por conta dos subsídios diretos e indiretos no cinturão de votantes de Trump.

Investimentos em modernização da produção, em inovação, que alguém do governo os faça e acharão muito bom. É a prática. Querem ver?

Estão sendo procurados recursos para desenvolver uma importante descoberta brasileira que poderá reduzir em mais de 50% os custos de várias etapas da produção de etanol. Foi encontrada no lago Poraquê, no município de Coroaari-AM uma “enzima Isolada… mostrou-se compatível com duas fases essenciais da produção do etanol de segunda geração: a fermentação e a sacarificação. A realização simultânea dessas duas etapas oferece a perspectiva de uma grande redução de custos para a indústria sucroalcooleira, uma vez que as reações podem ocorrer em um único reator e com economia de reagente.” Sic. Foi coisa da USP e parceiros.

Confesso que só entendi mais ou menos, mais para menos do que para mais, mas desconfio que os que pedem subsídios poderiam botar uma graninha nisso.

Ouvi também um Ministro da equipe de crise perorando sobre a importância de Suape para o Nordeste e para o Brasil. Afinal, ao menos. Quem sabe sobra para a Refinaria, habilitável para processar óleo menos poluente, se a concluírem. As demais construídas muito antes não são aptas para fazê-lo. Importamos gasolina e óleo diesel de boa qualidade e exportamos petróleo. Apesar de já ter visto, tempos atrás, Presidente e candidata a, lambuzados de ouro negro nos dizerem que estávamos autossuficientes.

Poderíamos lamber as feridas da rapina e da irresponsabilidade que levaram à paralisação das obras da RNEST. Dizem que falta apenas 3 bi, e tome diesel Mas, cadê o dinheiro? A PETROBRÁS não os tem. As Sete Irmãs ( ainda são sete?) teriam, mas estão escabreadas com o Brasil.

Buracos em baixo não faltam, poderia citar vários, mas os editores da Será? poderiam achar que eu só quero usá-la para me amostrar.

Fico apenas com o maior deles no qual estamos ameaçados de cair: o do silêncio, até outubro, dos tantos múltiplos candidatos ao Executivo e ao Legislativo sobre como faremos para tapar todos os buracos em cima, no meio e debaixo das nossas aflições.