David Hulak

The Rain Room – MOMA.

O jogo não está jogado. 15,14,12,13,25,65,40,45,36, 20,33,44,23,43,70,11,16,21,28,31,27,29,19,17,10,50,22,55,54,51,90,77,18,35?

Façam seu jogo, senhores e senhoras, diz a roda da fortuna travestida de crupiê. Vou de Vermelho 27? Se der Preto17 a culpa será de Nelson Gonçalves. “Vermelho vinte e sete… Seu dinheiro tanta gente alimentou …Deu preto dezessete, nem um cão entre os amigos encontrou…”.

Então quem cuidará do meu rico dinheirinho?

A bolinha rola e não sei se dará socialista, comunista, capitalista, neoliberal, liberal de antanho, golpista ou prestamista. Haverá opções combinadas para essa grande dúvida, como ensinou Dejan Petkovi?, née iugoslavo, hoje sérvio, mais conhecido como Pet, para nós. Durante esta última Copa (hexa é luxo) guardei um pedaço de uma entrevista dele:

“…, mas tinha emprego pra todo mundo. Essa era a parte boa do regime socialista,algo que o governo realmente tem de fazer. Criar oportunidades de trabalho. Mas, como as empresas viviam de subsídio, não importava o resultado. A produtividade era baixa. Uma fábrica que poderia operar com 3.000 funcionários tinha 30.000. Como meu pai dizia: comia a si mesmo.” Sic.

Aqui, no ano passado, só de subsídios para os que acertaram no milhar ou na bolinha rolaram 354,8 bi e por quinze anos, acumulados foram mais de mais de 3 tri e nesse meio tempo não caiu nada no meu cofrinho. Eu desconfiava, já naquele fatídico 2006, sem grana e sem Copa, que nele jamais cairia nada e fiquei esperando para os anos vindouros, sem Zidane armando e Henry finalizando, que, ao menos, o Caneco voltaria para o Brasil, já que o outro havia sido roubado.

Mas nem subsidio no cofrinho nem Caneco na Copa. Houve, de lá para cá, o holandês Wesley Sneijder, grande safadão; os alemães  Miroslav Klose  Schweinsteiger, Khedira, Kroos, Özil e Müller e finalmente os  belgas De Bruyne, este servido por Lukaku e mais o belga\brasileiro Fernandinho, neste triste 2018 de crupiês ensandecidos e de comemoração do derretimento do ouro da Jules Rimet , efeméride relembrada afanando-se a medalha do matemático iraniano.

Inhaca desde muito tempo, para mim e para Pet que brilhou no Vitória, no Fla, no Flu no Vasco e em outros menos votados, quando foi convocado para a seleção da Iugoslávia, a FIFA tirou-a da Copa substituindo-a pela Dinamarca, em 99. Pet meteu bronca na revista Corner,”embargo no esporte faz sentido? Não faz sentido. Nenhum. Era preciso ser uma decisão unânime da ONU, e não foi. Foi uma decisão da OTAN. Em 1999, aconteceu uma série de bombardeiros da OTAN mesmo com o veto de países membros da ONU. Há coisas no mundo que só funcionam pela vontade política de algumas partes envolvidas. Eu iria para a Euro 92. Perdi uma grande vitrine para mostrar meu talento“.

E o meu talento, cara? Perdi-o tantas vezes por tanto tempo! Joguei Lott, deu Jânio; ia jogar JK, deu Castelo Branco; Joguei Brizola, deu Collor; acertei na pule FHC, mas depois deram Lula e Dilma. Isola, “pé de pato, mangalô treis veis”.

Já estou vendo. Jogarei 23 e vai dar o que?

P.S. Falando sério.

Para quem gosta de boa leitura aviso que em breve estará nas melhores livrarias (menos na Cultura do Recife Velho) um livro imperdível. São as crônicas redigidas por Luiz Otávio Cavalcanti ao longo da última Copa. São deliciosas e esclarecedoras sobre este mundo doido de pebolismo, de intolerância, de chutes na canela, de mais de “mil sonhos frustrados”