Luiz Otavio Cavalcanti

Morangos.

Morangos.

Avenida 17 de agosto. Três horas da tarde de uma terça feira de janeiro. Estou indo participar de banca examinadora. O sinal fecha. Eu paro o carro. Na calçada, um caixote com pacotinhos de morangos. Pensei na chance de tê-los, de noite, na volta da faculdade. Para comer com creme de leite docemente derramado sobre eles.
Baixei o vidro e disse à moça que os oferecia:
– Um pacote. Quanto é ?
– Sete reais, respondeu.
Ela os colocou à minha vista para que eu escolhesse. Disse a… ela:
– Me dê os mais bonitos. Os que você levaria para casa.
– Tome esse. Mas, bonita, aqui, sou eu.
E acrescentou:
– Desculpe a brincadeira.
Virou-se para guardar o dinheiro e sentar novamente no banquinho. Disse sem maldade. Não teria mais de quinze, dezesseis anos. Sandálias bem usadas. Vestida com a simplicidade que a vida severina permite. Cabelos curtos, tez branca. Um ar de jovem que a necessidade tira do estudo e bota na rua.
O sinal abriu e continuei meu caminho. Levei comigo a notável auto estima da moça do morango. Sem roupa de grife, sem sapato novo, sem cabelo aparado, sem nada no rosto. Sem nada, sem acréscimo acidental. Ela tinha só o essencial. Mãos segurando morangos. E uma alma cheia de confiança. Capaz de extravasar naturalmente uma sólida convicção sobre si própria.
Chegando ao destino, tive a certeza de que a moça do morango é uma metáfora do povo brasileiro. Massacrado, enganado, mas livre para pensar que é bonito. E é.

***