Cais José Estelita, Recife. Área degradada e de alto valor urbanístico para o qual empresas têm ambicioso e controverso projeto imobiliário. O Cais José Estelita é o ponto de encontro de visões distintas de cidade. Precioso e raro momento para discutir o Recife que queremos. Raro, porque fomos nos afastando gradualmente de uma tradição recifense que nos orgulhava: sempre tivemos bons urbanistas e gestores públicos, desde os tempos de Nassau, que fizeram da cidade um dos mais belos lugares para se viver no Brasil. O que está em jogo, além dos disparates naturais dos que parecem discutir mas apenas esgrimem acusações? Um novo jeito de fazer cidade. Cresce entre nós, especialmente no meio dos jovens, um desencanto com a cidade que resultou de um modelo de negócios imobiliários que começa a falhar e que reflete a incapacidade dos governos de investir e de regular os investimentos privados. É limitada e equivocada a dicotomia da discussão: “qualquer edificação é melhor do que deixar o lugar como está, decadente e abandonado” ou, o seu oposto: “tudo que o capital privado propõe para área não serve à requalificação urbana”. Nem tanto ao cais, nem tanto à terra. O que se deve discutir seriamente é o modelo de negócio e de investimento que tenha viabilidade econômica mas, ao mesmo tempo, gere os melhores resultados à reestruturação urbana da cidade do Recife. O que está em jogo, em termos econômicos (e, portanto, de viabilização) é encontrar um novo modelo de negócios imobiliários que seja ganha-ganha, para os investidores e para a cidade. O movimento #OcupeEstelita deu uma enorme contribuição para aprimorar o projeto e a Prefeitura negociou mudanças importantes no modelo inicial. Mas ainda é necessário melhorar bastante, principalmente no uso misto com nova configuração de gabaritos e densidades CONECTADA com a cidade (a área total construída pode ser a mesma, sem prejuízos de metros quadrados vendáveis). O uso misto dará vida e cara de cidade a esta frente d’água de valor inestimável para o Recife. E seria um fato extraordinário: um experimento urbano que honraria a tradição pernambucana de fazer cidade boa para se VIVER.

 

Os Editores