Sérgio C. Buarque

A aliança de Eduardo Campos (PSB) com Marina Silva (Rede Sustentabilidade) deve gerar um resultado superior (talvez mesmo muito superior) à soma das intenções de voto que cada um deles tinha antes do acordo, o que parece confirmado pelo salto registrado pelo governador de Pernambuco na primeira pesquisa da Datafolha (salto de 5% para 15%). Em primeiro lugar pelo impacto do fato político da decisão de dois ex-ministros do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva se unirem na busca de um projeto comum para o Brasil, introduzindo um componente novo no jogo político do Brasil. A combinação do recall de Marina Silva, e os 20 milhões de eleitores em 2010, com a imagem de gestor competente do governador de Pernambuco, deve gerar uma síntese que supera a quantidade e, principalmente, a qualidade de cada um dos seus componentes.

Durante duas décadas, a política brasileira vem flutuando em torno do PSDB e do PT, alternando governo e oposição, com seus diversos aliados e adversários que também se movem de acordo com suas conveniências e seus interesses partidários. Esta polarização que, em grande parte, reflete uma disputa de poder em São Paulo, pode ter se esgotado com o cansaço do eleitorado que permanece preso enquanto não surge uma alternativa viável e fora do eixo dominante paulista. Na verdade, as diferenças programáticas entre os dois partidos – PT e PSDB – se reduziram bastante desde que o PT tornou-se governo, assumindo quase todos os projetos tucanos, embora quase sempre de forma envergonhada ou disfarçada. Atualmente, a grande diferença entre PT e PSDB é de gestão, com os governos do PT travados por limitações gerenciais e inclinados a medidas imediatistas e práticas populistas, práticas que se evidenciam mais claramente no governo da presidente Dilma Roussef, compensando sua total falta de carisma.

Desta forma, a aliança PSB-Rede se apresenta como uma alternativa à polarização que vem dominando a política brasileira nas últimas décadas, apostando num provável tédio dos brasileiros que acompanham esta persistente e maçante disputa e comparação entre o governo de Fernando Henrique Cardoso e os governos do PT. Mas cabe a pergunta: qual a proposta programática da aliança PSB-Rede? Como foi referido antes, Eduardo Campos e Marina Silva se juntaram na busca de um projeto comum que ainda não têm e que não pode ser a junção ou soma dos seus projetos. Entre estes existem grandes diferenças que podem gerar tensões, particularmente no que se refere aos direitos civis (aborto, casamento de homossexuais, etc.). No entanto, nos aspectos fundamentais da concepção das suas propostas, a síntese programática pode ser melhor que cada uma delas isoladamente: a articulação da visão desenvolvimentista e, em parte, economicista, de Eduardo Campos, com a concepção ambientalista e, em grande medida, preservacionista, de Marina pode ajudar a compor uma proposta de desenvolvimento sustentável para o Brasil.

A gestão de resultados de Eduardo Campos, impulsionando o crescimento econômico e o emprego, moderada pela regulação ambiental da Rede, pode compor uma proposta programática alternativa para o futuro do Brasil. E o Brasil tem coisas muito mais urgentes e fundamentais que casamento homossexual ou aborto. O futuro presidente do Brasil terá que lidar com questões estruturais de grande impacto no futuro: o pacto federativo, a reforma do Estado e da gestão pública, as reformas microeconômicas, a redução dos gastos e do desperdício públicos, a recuperação da capacidade de investimento público, a melhoria da educação e dos serviços públicos urbanos, a recuperação e conservação do meio ambiente. Em torno desta agenda parece possível um acordo programático do PSB com a Rede de Sustentabilidade. Mas, claro, tudo depende da capacidade das suas lideranças na construção desta alternativa programática e na sua apresentação convincente ao eleitorado brasileiro.