Editorial

O jornal Estado de São Paulo publicou com estardalhaço – manchete de primeira página – uma pesquisa que mostra Luciano Huck com 60% de aprovação, superando vários políticos e personalidades, bem à frente de Luis Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, os dois com maior intenção de voto nas pesquisas eleitorais. Necessário esclarecer, contudo, que esta pesquisa divulgada pelo Estado de São Paulo não tem caráter eleitoral, na medida em que a pergunta apresentada não foi “em quem votaria”, mas se “aprova ou desaprova a maneira como vem atuando no País?” Quando mistura Huck com políticos que estão sendo testados em pesquisas eleitorais, a avaliação do Barômetro Político (Estadão/Ipsos) passa a impressão de que o apresentador da Globo vai ganhar de lavada as eleições presidenciais do próximo ano. Como lembra o diretor do instituto de pesquisas, “as pessoas estão avaliando um Luciano Huck que aparece há 15 ou 20 anos na televisão” (…) e que “… não tem a imagem desgastada por embates políticos, ainda não foi testado em um debate”. De qualquer forma, é surpreendente a enorme aprovação de Huck, que supera Sérgio Moro e Joaquim Barbosa, duas outras celebridades que, como ele, não são políticos. A imprensa e alguns dirigentes políticos parecem desesperados atrás de uma celebridade para quebrar a polarização ideológica que divide o Brasil entre o populismo de Lula e a direita raivosa de Bolsonaro. O que pensa e o que propõe Huck ou outra qualquer celebridade sobre os graves problemas do Brasil, a crise fiscal, o desemprego, a violência, o baixo nível de educação, e a degradação da saúde pública, não parece interessar muito. Alguém sabe quais são as propostas políticas de Huck para o Brasil? Como ele conduziria a política macroeconômica e que tratamento daria à questão fiscal de um Estado falido? O que importa é sua visão de mundo e sua proposta para o Brasil, e não a sua condição de homem público sem vida política e, portanto, sem experiência política e administrativa. O fato de ser um bem sucedido animador de televisão não o desqualifica para a política. Mas tampouco o credencia para pretender assumir o mais alto cargo do Brasil, principalmente num momento tão delicado da economia e da sociedade brasileiras. O Brasil não precisa de celebridades na política. O Brasil precisa de um político sério, com experiência, ideias e propostas de mudança.