Editorial

A greve dos caminhoneiros e das transportadoras parou o Brasil durante dez dias de tensão, trapalhadas do governo e dispersão das lideranças e das pautas inflexiveis e radicais do movimento. Governo frágil e incompetente, negociou de joelhos e cedeu mais do que devia e podia. E a opinião pública, desorientada e perdida, carente de lideranças e desconfiada das instituiçoes, viu no movimento um protesto contra tudo que está ai, apoiando os caminhoneiros sem considerar os seus impactos altamente negativos na economia e nas próprias condições de vida da população. A greve terminou, mas deixou marcas profundas no ambiente político às vésperas das eleições gerais, estimulando o discurso populista e irresponsável de alguns e evidenciando a desorientação apática de outros. As consequências na economia serão dramáticas. O prejuizo imediato com a paralisação da produção, a perda e a deterioração de mercadorias e estoques, e a quebra de contratos de suprimento deve alcançar a cifra lamentável de R$ 75 bilhões de reais (estimativa do jornal Estado de São Paulo). Além desta perda já contabilizada, o Brasil pode dar adeus à sonhada retomada do crescimento econômico. O generoso acordo do governo federal com os caminhoneiros, subsidiando os combustíveis com um custo fiscal estimado em quase R$ 10 bilhões, pressiona o elevado déficit primário contratado para este ano. Aumenta a desconfiança dos agentes econômicos no equilíbrio fiscal, o que inibe a decisão de investimento. O governo Michel Temer acabou. Resta agora esperar que consiga manter a máquina funcionando no piloto automático até o final do ano, para entregar o poder ao presidente que será eleito em outubro. Aos brasileiros cabe a responsabilidade pela escolha do futuro presidente e do Congresso Nacional, que enfrentarão esta “tempestade perfeita”, ou jogarão o Brasil de vez no buraco negro).