Editorial

O processo de impeachment contra o presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, se acelerou depois da revelação pelo seu motorista, Eriberto França, de que o Fiat Elba que dirigia para o presidente teria sido pago por PC Farias, tesoureiro da campanha, com contas fantasmas que confirmavam a corrupção no governo. As informações do motorista explodiram como uma poderosa bomba num ambiente de enorme desgaste e insatisfação dos brasileiros com os desmantelos do governo de Collor. Existia a evidência de corrupção, mas o processo foi essencialmente político e refletia a rejeição dos brasileiros ao governo por conta do bloqueio da poupança, da acelerada abertura externa da economia e do descontrole da inflação, desagradando a todos os grupos sociais. Agora foi um zelador e o denunciado o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que seria proprietário de um apartamento triplex em um edifício no Guarujá, onde a empreiteira OAS teria investido 770 mil reais numa ampla reforma. O ex-presidente nega ser proprietário do triplex. Mas o zelador, José Afonso Pinheiro, contou à Polícia Federal que Lula e sua esposa teriam visitado o apartamento mais de uma vez durante as obras da empreiteira, confirmando a informação. O triplez pode ser o Fiat Elba de Lula. Claro, ao contrário de Collor, Lula não é mais presidente e não tem nenhum cargo ameaçado por um eventual processo. Mas a “alma mais honesta deste país” tem a sua imagem pública altamente comprometida diante dos brasileiros, principalmente daqueles poucos que acreditaram nessa piada. Além disso, desmoralizado o mito Lula, o que sobra do Partido dos Trabalhadores? E como sobrevive o governo Dilma Rousseff, já tão desgastado quanto o ex-presidente Collor quando na iminência do seu impeachment?