Editorial

O Oriente Médio é um barril de pólvora. Alimentado por ódios e ressentimentos históricos entre os judeus, no pequeno e rico Estado de Israel, e os palestinos, imprensados na pobreza de Gaza e da Cisjordância, apoiados e utilizados politicamente pelas dinastias árabes e muçulmanas, a região parece na iminência de uma explosão.

Tudo isso num território de grande importância geopolítica, concentrando parte significativa das reservas mundiais de petróleo nos países árabes, e com um dos rivais armado com a bomba atômica. Qualquer faísca pode levar a uma guerra de grandes proporções e desdobramentos imprevisíveis, pelos interesses em jogo, contaminados por fanatismos religiosos.

São muitos os focos de disputa entre árabes e israelenses mas, com certeza, o mais sensível é o estatuto de Jerusalém, cidade sagrada para judeus, muçulmanos e católicos. E eis que chega o presidente dos Estados Unidos, o incendiário Donald Trump, com uma tocha na mão, para incendiar o Oriente Médio, anunciando o reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel e a breve transferência da embaixada americana para a cidade sagrada. O acordo assinado em 1990 por Yitzhak Rabin, pelo governo israelense, e Yasser Arafat, presidente da OLP-Organização para Libertação da Palestina, dividiu Jerusalém em duas partes: Jerusalém Ocidental seria a capital de Israel, e Jerusalém Oriental a capital do futuro Estado palestino, que deveriam ser implantados e reconhecidos ao mesmo tempo. Se é verdade que este acordo perdeu legitimidade, não é menos verdade que a ONU-Organização das Nações Unidas continua insistindo que o status de Jerusalém deve ser definido em negociações entre israelenses e palestinos.

Como tem feito seguidamente, Trump ignorou solenemente as orientações das Nações Unidas e desrespeitou completamente a posição dos seus principais aliados no mundo ocidental, que criticaram com veemência a aventura incendiária do presidente dos Estados Unidos, preocupados com as dramáticas implicações na delicada e instável situação do Oriente Médio. Os observadores menos pessimistas temem que este simples anúncio da grande potência americana coloque em risco as frágeis e difíceis negociações de paz no Oriente Médio. E não se pode excluir que a revolta no mundo árabe intensifique as aventuras terroristas contra o próprio povo norte-americano. Vale lembrar, ainda, os conflitos e a instabilidade política em vários outros países da região, especialmente na Síria, e a retórica agressiva do mesmo Trump contra o Irã. Envolvido nos seus problemas internos e desmoralizado pelas suas irresponsáveis e incompetentes manifestações, o incendiário Trump brinca com fogo, como se estivesse soltando fogos nos jardins da Casa Branca. Essa brincadeira pode incendiar o planeta.