Elimar Pinheiro do Nascimento

A semana que está findando foi rica em divulgação de pesquisas eleitorais. Pelos menos três institutos tiveram seus resultados amplamente divulgados. Nada extraordinário, afinal, o jogo começou. Um começo esquisito, pois um dos candidatos, de longe o melhor colocado, provavelmente não participará. A esmagadora maioria dos analistas diz que ele não tem chances de ser candidato. De toda forma a incerteza paira no horizonte de setembro. Até 17 de setembro provavelmente estará definido. Mas, outra vez não há certeza. Quando a decisão será tomada expulsando-o do jogo? Afinal, sua ausência ou presença muda tudo. Se presente, provavelmente estará eleito no primeiro turno. Coisa que nunca lhe aconteceu. As duas vezes em que foi eleito teve que enfrentar um segundo turno.

Esse é um fenômeno a ser estudado. Como um político preso, condenado, consegue não apenas ser o preferido das intenções de voto dos eleitores, como tem crescido na preferência, depois que entrou na cadeia? Em praticamente todos os institutos hoje mais considerados, como Ibope, DataFolha, Paraná e MDA, ele tem crescido. Se há três meses estava chegando na casa dos 30%, hoje se aproxima dos 40%. É um fenômeno a ser explicado. Não adianta apenas dizer que em seu governo a maioria da população esteve em melhores condições de vida do que hoje, e que encerrou seu governo em 2010 com mais de 80% de aceitação. Não adiante dizer que a crise presente torna o passado mais belo. É preciso considerar a fragilidade de seus adversários, mesmo o do fenômeno mais novo, o candidato da extrema direita. Deve-se também considerar a força da narrativa de seus adeptos. O fenômeno não se explica apenas pela tradição de permissividade que a população tem com o mundo político: “rouba mas faz”, pois, um grande percentual de seus adeptos não o creem culpado, mas vítima. 

Para começo de conversa deve-se ter presente que as pesquisas eleitorais estão sujeitas a erros. Na história recente muitos erros foram observados. Cerca de 30% de erros cometeram Ibope e DataFolha nos últimos pleitos. Erros no caso é o resultado distinto entre a última pesquisa antes das eleições, retirando a pesquisa de boca de urna, e considerando as margens de erros, normalmente entre 2,5% e 3%. Claro que sempre se pode argumentar que não houve erro quando o resultado não se diferencia muito daqueles da pesquisa, sob o argumento de que os eleitores mudaram de posição nas últimas 48 horas que antecederam as eleições, e subsequente as pesquisas. Afinal, a pesquisa eleitoral é um retrato das intenções de voto no momento em que o trabalho de campo se realiza. No entanto, algumas vezes esta margem ultrapassou os 10%. É muito. Ou os candidatos chegaram em ordem invertida. 

Pesquisa eleitoral é um processo sujeito a muitos erros, inicia-se com a elaboração do questionário e se encerra no tratamento dos dados coletados. Hoje tem-se tecnologia, e experiência, para amenizar estes erros. Mas não para elimina-los por completo. Normalmente as pesquisas seguem duas vertentes de coleta de dados: domicílio e fluxo (ultimamente tem-se enfatizado o uso de telefone pela disseminação deste aparelho, é o caso do trabalho que faz Poder360). Mais normalmente tem-se utilizado os dois simultaneamente. Faz-se uma parte em domicilio e outra em fluxo, buscando que a amostra tenha a cara do universo, ou seja, o mesmo percentual de homens e mulheres, de hierarquia etária e distribuição de escolaridade. O princípio amostral primeiro é que todos os componentes do universo tenham a mesma probabilidade de serem entrevistados. E isso, normalmente não ocorre por múltiplas razões, a principal das quais pelo tempo necessário para se obter o resultado, mas também pelas próprias metodologias utilizadas. Dois exemplos: no caso do domicílio não posso sortear o entrevistado entre os eleitores residentes – não teria como voltar se sorteado um eleitor ausente; no caso de fluxo reduzo as chances dos habitantes locais que se ausentam ou se distanciam pouco de seus domicílios serem contemplados. Erros provenientes da ordem de questões ou da aplicação falseada do questionário, a experiência acumulada permite sua redução considerável no caso dos Institutos tradicionais. 

Contudo, as variáveis passíveis de provocar erros persistem, inclusive o grau de confiança, de 95%. O que significa, teoricamente, que se os questionários foram aplicados 100 vezes em 95 dos casos seus resultados seriam similares. Mas em 5, não. Há variáveis mais sutis, como a do eleitor envergonhado, que não diz em quem vai votar.  Enfim, tudo isso para dizer: tome-se com a devida cautela resultados de pesquisa eleitoral. Nem estou falando de “venda” de margem de erro. Pesquisa eleitoral é uma mercadoria. E as empresas vivem de lucro.

Apesar de tudo isso “acreditamos” nas pesquisas. Nas três divulgadas ao longo da semana (CNT/MDA; Ibope e DataFolha), apesar de pequenas diferenças metodológicas, há resultados compartilhados. Mas outros, nem tanto. É sempre perigoso comparar resultados provindos de metodologias não similares, mas vamos abstrair esta recomendação.

Os resultados referentes a Lula são convergentes, variando entre 37 e 39%. Considerando-se a margem de erro, a diferença numérica é insignificante. Bolsonaro variou de 18 a 22%, com e sem Lula no páreo. Aqui a diferença já é significativa. O que não ocorre no caso de Marina (variando de 6 a 8%) e de Ciro (variando entre 4 e 5%). Em todos os cenários com Lula, a ordem é predominantemente a mesma:  Lula, Bolsonaro, Marina, Alckmin e Ciro. Quando Lula sai do cenário a ordem muda entre Ciro e Alckmin, mas se mantem na cabeça com Bolsonaro em primeiro e Marina em segundo. A mudança entre Ciro e Alckmin deve-se ao fato de que a aproximação de intenção de votos entre estes dois candidatos é muito pequena e Ciro é privilegiado, em relação a Alckmin, com a transferência de votos provenientes da ausência de Lula. A migração de votos de Lula é na seguinte ordem: Haddad, Marina, Ciro e Bolsonaro.

Chama também atenção entre os cenários com Lula e sem Lula o comportamento dos indecisos e que se declaram votar em Branco ou Nulo. Tanto no Ibope como na DataFolha (CNT/MDA não considerou a hipótese sem Lula) há um aumento considerável destes dois segmentos populacionais, porém com grandezas distintas. No caso do Ibope sai-se de 22 para 38%. No caso do DataFolha o movimento vai de 14 para 28%. Uma diferença de 10% nos cenários sem Lula.

Quando se desenha a hipótese de segundo turno, Lula ganha de todos. Sem Lula o único que empata com Bolsonaro no segundo turno é Marina. O resto ele ganha. Por sua vez, Alckmin perde de todos.

Entretanto, em favor do paulista há pequenas considerações. A primeira delas é o tempo de TV. A diferença, entre os cinco primeiros colocados, considerando-se o candidato do PT, é extraordinária. Alckmin tem 5 m 2 32 s em cada bloco, com 434 inserções; o candidato do PT tem 2 m e 22 s com 188 inserções. Os outros três têm um tempo irrisório: Bolsonaro tem 8 s e 11 inserções; Marina – 21 s e 29 inserções e Ciro – 38 s e 50 inserções. Considerando que a maioria dos eleitores declara ser mais influenciado pela TV do que pelas redes e outros meios de divulgação, o ex-governador paulista tem um espaço privilegiado. Mas aqui também reside uma grande incerteza: será suficiente para captar o eleitor indeciso ou fazer mudar outros?

Um outro componente favorável ao Alckmin é a expectativa dos eleitores sobre quem estará no segundo turno, usado na pesquisa CNT/MDA: Bolsonaro tem 43% de chances; Alckmin – 28; Ciro e Marina – 21. Não se deve esquecer, contudo, que quase um terço (30%) dos eleitores não se pronunciaram.

Favorável a Marina apenas os estudos sobre potencialidade de votos (soma dos que declaram que vão votar e aqueles que dizem que podem votar). Marina ganha de todos com 41%, mas empatada com Ciro (40%). Na frente do Alckmin (36%) e do Bolsonaro (35%).

Estes são os capitais e recursos de cada candidato, nesse jogo decisivo para o País. Mas que uma parcela relevante não dá a devida atenção (33% diz não dá importância ao pleito, segundo CNT/MDA).