Eduardo Galeano notabilizou-se como um dos mais importantes intelectuais e ativistas da esquerda latino-americana com a publicação do clássico As veias abertas da América Latina. Escrito no começo da década de 1970, em que muitos países dessa parte sul do continente americano viviam regimes ditatoriais militares, o livro, que vendeu mais de um milhão de exemplares, tem influenciado por mais de quarenta anos gerações de jovens e ativistas. “Há dois lados na divisão internacional do trabalho: um em que alguns países especializam-se em ganhar, e outro em que se especializaram em perder. Nossa comarca do mundo, que hoje chamamos de América Latina, foi precoce: especializou-se em perder desde os remotos tempos em que os europeus do Renascimento se abalançaram pelo mar e fincaram os dentes em sua garganta (…) a história do subdesenvolvimento da América Latina integra, como já se disse, a história do desenvolvimento do capitalismo mundial”. Essa bipolaridade entre vencedores e vencidos com que abre o livro marcou profundamente o pensamento de esquerda latino-americano. Porém o próprio Galeano se deu conta de que “a realidade é muito mais complexa exatamente porque a condição humana é diversa”. Aos 73 anos, numa declaração corajosa na sua fala de abertura da Feira de Livros de Brasília de 2014, reconheceu que “Veias Abertas…pretendia ser um livro de economia política, mas eu não tinha o treinamento e o preparo necessário”. O mundo mudou e “meus espaços de penetração na realidade cresceram tanto fora, quanto dentro de mim”. Radical na juventude e conservador na velhice? Não. Coragem de pensar criticamente sua obra e revisar aquilo que um dia disse. Essa foi a grandiosidade do pensador uruguaio.

Os Editores.