Elimar Pinheiro do Nascimento[1]

Sol após a tempestade.

Quatro fatos marcam a semana de maneira desastrosa para o País, e para a democracia. Ou são fatos que alimentam uma nova educação política do povo brasileiro? Será um processo educativo o que vivemos ou um simples um passo em direção a uma crescente decadência do País?

Vejamos os fatos, da maioria conhecidos.

Primeiro, a PF desencadeou uma operação em torno dos Jogos da XXXI Olimpíada, também conhecidos como Rio 2016, encontrando 480 mil reais na casa do presidente do Comitê Olímpico, Carlos Nuzman. Foram denunciados não apenas a corrupção, com pagamentos ilícitos a diversas empresas, como propinas pagas em 2008 para o Rio vencer a competição para sediar os Jogos Olímpicos. Além da corrupção, o legado dos tais jogos é um monte de imóveis inúteis, com prejuízos que vão as casas do bilhão. Enfim, escroqueria nacional e internacional, enquanto o povo não tem saúde e as balas perdidas percorrem a cidade e o governador do Rio ainda tem a petulância em dizer que a corrupção não é o problema.

Segundo, foram as maletas de dinheiro encontradas em um apartamento em Salvador. O dinheiro contido nas malas somava mais de 51 milhões de reais. Uma soma difícil de imaginar para quem é simples trabalhador. Maletas e caixas pertencentes a Geddel Vieira Lima, ex-ministro de Dilma, Lula e Temer, que está em prisão domiciliar.

O terceiro foi a fita de Joesley e seu subordinado Ricardo Saud entregue por eles mesmos à PGR, nos quais os personagens, referindo-se ao discutível e execrado acordo de delação premiada, se vangloriam de estarem acima de lei e poderem comprar qualquer pessoa, inclusive do STF. Uma conversa repleta de indícios do envolvimento de um dos mais importantes auxiliares do Procurador Geral, mostra, sobretudo, como são os grandes empresários brasileiros, como eles agem aliados a membros do governo para se apropriarem dos impostos do povo trabalhador.

Finalmente, a semana se completou (será?) com as respostas do ex-ministro e homem de confiança de Dilma e Lula, Antônio Palocci, ao juiz Sergio Moro sobre o envolvimento dos ex-presidentes no grande esquema montado em torno da Petrobrás para financiar suas ações e as eleições dos dirigentes do PT. O ex-ministro dissecou os passos para a montagem do esquema com a Odebrecht. Enfim, com detalhes o homem de confiança de Lula e Dilma entregou os chefes.

Quando se toma conhecimento de tudo isso, em tão pouco tempo, um pensamento me assalta e me desassossega: como se pode sair de uma situação em que, aparentemente, todas as instituições estão contaminadas? Os grandes partidos, sem exceção, estão envolvidos em corrupção; procuradores da República auxiliam bandidos; ministros do judiciário inocentam dirigentes com um caminhão de prova em contrário e o Parlamento nega um processo de investigação contra um presidente que recebe as escondidas um empresário suspeito, escuta que ele está comprando juízes e procuradores, entre outros, e não faz nada. Enquanto isso, o crime organizado cresce e se prepara para controlar a política.

A corrupção envolve a todos políticos, com raras exceções. Contudo, há quem julgue que era melhor não sabermos nada, e que o culpado de tudo isso é o Juiz Sergio Morro e a Polícia Federal com a operação Lava Jato, e por isso ela deve ser extinta. Os movimentos, neste sentido, são cada vez mais claros. O Parlamento se prepara para mudar a lei da delação, votar a lei de responsabilização (inibição) dos juízes e enterrar o projeto de lei de mudança do Foro privilegiado. O STF se prepara para extinguir a prisão de condenados em segunda instância. E o Ministro da Justiça organiza a mudança da direção da Polícia Federal, enquanto corta dinheiro para as investigações. Por sua vez, as redes sociais, alimentadas pelos mesmos que ontem eram contra a corrupção, se enchem de impropérios contra os que querem apurar os fatos e punir os culpados, não importa quem seja.

Será que o Brasil ficará melhor com a impunidade? Com a continuação da corrupção – que alguns intelectuais teimam em dizer que não é problema importante? Será melhor com as regras eleitorais que alimentaram a corrupção, pois Parlamento não tem tempo nem consenso (sic) para as mudanças?

Todo o problema é que apenas a mídia e a opinião pública – que Bourdieu dizia não existir – se colocam a favor da continuidade das apurações, ao lado de alguns procuradores e juízes, da Polícia Federal e poucos políticos como Marina Silva e Cristovam Buarque. Aliás, a campanha da Rede Sustentabilidade é muito interessante, conclamando a todos a ingressarem em uma campanha cívica, a da Lava voto, eliminando os corruptos do Parlamento e do Executivo. Proposta criticada, outra vez, por alguns intelectuais que dizem ser este procedimento próprio de um moralismo desclassificado. Será?

Esses intelectuais que se colocam contra a Lava Jato, contra o instituto da delação, contra o Juiz Sergio Moro e cia, e negam que Lula tenha cometido qualquer ato de malversação do dinheiro público são os mesmo que defendiam Chaves ontem e hoje defendem a ditadura de Maduro. Filhos e netos dos que defendiam Stalin. E ainda se proclamam de esquerda.

A grande força da renovação política, que era a esquerda, morreu na sua maior parte. O PT e PMDB se unem para lutar contra a Lava Jato, quem diria. E sem força organizada para lutar em favor de uma nova política, de uma limpeza institucional, será possível mudar algo? Talvez sim. Talvez estejamos em face de novos atores sociais. De novos tipos de movimentos. Ou não? Será pura ilusão e desejo vão de quem não vê outra saída, e não quer aceitar a decadência social, política e moral que a vitória dos corruptos e do crime organizado apontam? Porque, enquanto nos amarramos nas lutas políticas do dia a dia, o crime organizado avança. Atemorizando juízes e promotores, matando policiais e recrutando homens treinados e dispensados das Forças Armadas. E, aos poucos, ingressam na política.

O Brasil caminha para a decadência? Para a perda constante da coesão social? Para a paralisia resultante das ações dos corpos corporativos? Para a incapacidade de renovar a política e paralisar o crime organizado?

Nessas horas é preciso escutar Edgar Morin que conheceu a invasão nazista na Europa e os temores da Segunda Guerra na resistência, quando diz que o mal não persiste sempre. Por mais ruim que estejam as coisas é preciso acreditar que as forças das trevas passarão, e que o sol voltará a nascer.

 

Será? Tomara.

 

[1] Sociólogo, pesquisador do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília