Elimar Pinheiro do Nascimento

A abertura do primeiro debate, a primeira cena, poderia prestar-se a título de um filme: sete homens e uma mulher. Mas não passava de um simples reflexo do lugar do masculino e do feminino em nosso país.

A primeira pergunta mostrou que a generalidade iria campear o tempo todo. E que o despreparo é grande. Como estes senhores e senhora não se prepararam para uma pergunta tão óbvia? Se há  duas coisas que mais preocupam o brasileiro hoje, uma sem dúvida é o desemprego.

Álvaro Dias, o primeiro a falar, acabou o tempo sem nada dizer do assunto. Dacíolo preferiu falar mal dos políticos, dizendo que seus concorrentes estavam repletos de vida pública, denunciando de cara sua estratégia: sou o único puro aqui neste meio. Boulos seguiu o mesmo caminho, não deu a mínima para a pergunta, preferiu citar a ausência de Lula. Esperado.

Ainda no primeiro bloco, Geraldo disse coisa com coisa, mas de uma forma que a gente ouve, mas não escuta. Bolsonaro faz o mesmo, com mais ênfase. Meirelles, que fala como se estivesse com um ovo na boca, explica que é responsável pelos feitos do governo Lula. Aliás, denunciando imediatamente sua estratégia: associar-se a Lula e distanciar-se do Temer. Ciro, depois de três frases, adentrou seu assunto preferido: zerar a divida dos indivíduos endividados, 63 milhões, segundo ele. O que, momentos depois, iria encantar o Bolsonaro, que quase declara nele votar, para ver como será feito. Marina é encantada com sua própria história, sem dúvida exemplar, mas com isso encurta seu tempo e não comove suficientemente o eleitor. Nada disse de diferente.

No seu desenrolar, o primeiro debate entre os presidenciáveis parecia mais um debate acadêmico entre ingleses. Deu sono. Bolsonaro estava tão bem comportado que não parecia o Jair, salvo um pequeno momento, quase no final. O tom de voz só subia quando falavam Dacíolo ou Boulos, que impressionavam, não apenas pelo tom discursivo comum, como se para uma multidão estivessem falando, mas por posições comuns contra os ricos. Não contra os privilégios, pois este ponto era comum a todos, inclusive o Meirelles. Nunca vi tantos políticos que recusaram privilégios, e nunca se assistiu a um consenso tão grande.

Pretensiosos todos são, mas ninguém bate o Jair, o único a salvar o país, talvez o Dacíolo. Mas a arrogância do Dacíolo é tão excessiva que cai na descrença. E poucos o batem na oratória. Vazia. Bolsonaro, no final, falou como se em comício estivesse, e seguro como poucas pessoas podem ser. Álvaro e Geraldo até tentaram, mas não conseguiram, ambos com serviços a mostrar.

Álvaro citou pelo menos seis vezes o Moro, que já virou ministro, não sei se consultado. E pedia sem parar que o povo brasileiro abrisse o olho.

Não se pode negar que o Geraldo foi corajoso,  defendendo as reformas de Temer, sem citá-lo. Aliás, ele parecia mais o candidato do Temer do que o Meirelles. Isso vai lhe custar votos. Foi o mais criticado por sua aliança com o centrão, e o maior objeto de criticas dos concorrentes, como se em primeiro lugar estivesse, na corrida eleitoral.

Dacíolo pregou o amor aos tapas. Quando falava, não nos convidava, mas obrigava a amar o próximo, e nos impunha  ouvir  a Bíblia. A arrogância e a ignorância do bombeiro eram tais  que o Brasil, em seu governo, vai alcançar o primeiro lugar no mundo, ganhando dos EUA  e da China. Mas sua estratégia era clara: buscar o voto dos indignados menos letrados ou esclarecidos.

Meirelles era o grande professor. Sabia tudo, e corrigia os meninos que diziam besteira. Como Marina, tinha trajetória, como Ciro, Álvaro e Geraldo, mostrava o que fez e o que não fez.

Marina e Ciro não fizeram feio nem brilharam. Quase se namoraram em público, com elogios mútuos. Marina, com preocupação clara de se diferenciar do atual governo, mas sem a ênfase suficiente. Ciro, mais preciso, e com mais segurança.

Surpreendeu que a responsabilidade de Dilma pela crise tenha sido tão pouco citada. Falava-se majoritariamente de governos pretéritos.

As questões que surgiram eram esperadas: contas publicas, segurança, desemprego, retomada do crescimento, aborto, reformas, corrupção e educação. A surpresa foi a Venezuela. E menos a questão das patentes e da decisão do STF. No entanto, apareceu pouco a questão do combate à pobreza. E quando se fez, foi em torno da Bolsa Família, que o Geraldo prometeu duas vezes ampliar, sem dizer como. O combate à desigualdade foi mais presente, sobretudo com a taxação dos ricos, das grandes fortunas, da herança, e a extinção da renúncia fiscal.

Com exceção de Boulos e Dacíolo, todos querem reduzir o Estado, desburocratizar, melhorar a gestão, buscar investimentos no exterior, promover a parceria público-privada. Geraldo diferenciou-se pela proposta de simplificação dos impostos, reduzindo cinco em um.

A polarização esperada não surgiu. E fomos dormir menos preocupados e mais tristes.