Clemente Rosas

Com o perdão das menos dotadas, segundo o poetinha Vinícius de Moraes, beleza é fundamental.  É um componente importante no juízo que fazemos sobre as pessoas, e não deve ser desprezado.  Prova disso podemos colher até no sentimento religioso: seria possível imaginar uma Nossa Senhora feia?

Vi em um jornal da minha terra a foto sorridente da juíza Gabriela Hardt, que vai substituir, no primeiro momento, o juiz Sérgio Moro nos processos da Operação Lava Jato.  E logo me veio a reflexão: esquecendo o “t” final do seu sobrenome, bem que ela pode e deve ser “hard” no seu trabalho, mas será sempre “sweet” em suas relações humanas, o que não deixa de ser saudável.  Afinal, seriedade não é sinônimo de caturrice, de cara feia, de mau humor.

O sorriso da doutora juíza ajuda a dissipar nuvens em relação ao destino da operação que vem comovendo o país, fazendo-nos crer, enfim, que o tempo da impunidade descarada dos políticos corruptos está chegando a termo. Tudo deve prosseguir normalmente, com os jovens procuradores da república fazendo o seu trabalho, e os demais juízes, e os ministros do TRF da 4ª Região olimpicamente exercendo o seu nobre múnus. E agora com o respaldo político que em alguns momentos ameaçou faltar, na pessoa de um Ministro da Justiça absolutamente independente, sem amarras partidárias nem compromissos políticos. Cabe aqui a pergunta: quando, no passado, tivemos no Brasil um Ministro da Justiça em situação como essa?

Certamente, a primeira preocupação de Moro deve ser impulsionar a aprovação das dez medidas de combate à corrupção, projetos de lei de iniciativa popular vergonhosamente mutilados e engavetados no Congresso. Não poderia fazer isso como juiz da Lava Jato.  Mas há gente graduada que vê, na decisão de aceitar o cargo de ministro tomada por ele – que, na verdade, implica sacrifícios e riscos – motivações mesquinhas.

Ao tomar conhecimento dessas análises bisonhas de “brazilianistas” ao redor do mundo, só me ocorre a sábia observação de Tom Jobim: o Brasil não é para principiantes.  A tese do viés e da seletividade das condenações já caiu há muito tempo, com as prisões e processos de figuras notórias de vários outros partidos. E ver uma nomeação para ministro, cargo demissível “ad nutum”, como um emprego, a título de prêmio, para quem larga uma sólida carreira no Judiciário, é coisa para mentes estreitas, ou cativas.

Continuo esperançoso no sucesso da Lava Jato, na boa atuação do Ministro Sérgio Moro, em uma nova era de moralidade da política no Brasil.  E o sorriso da doutora juíza Gabriela Hardt contribui para isso.  Como escreveu Oscar Wilde, só os tolos não julgam pelas aparências.

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