Clemente Rosas

Luiz Otávio Cavalcanti levou a público sua decisão de afastar-se da presidência da FUNDAJ. Com a saída, para candidatar-se, do Ministro Mendonça Filho, que o recrutou para uma missão que se prenunciava espinhosa nas circunstâncias, e sem a garantia de apoio para dar continuidade ao seu trabalho na instituição, achou ser o momento para retirar-se do palco.

Ao falar de suas realizações no pouco espaço de tempo em que esteve à frente da Fundação Joaquim Nabuco, apenas referindo as obras “de pedra e cal”, deu destaque aos feitos imateriais, como o pedido ao IPHAN e à FUNDARPE de tombamento dos edifícios de valor histórico da instituição. Mencionou também a restauração do Seminário de Tropicologia e o colóquio sobre Celso Furtado, já convertido em livro. E aqui acrescento: os ciclos de conferências a propósito do centenário da Revolução Russa e do bicentenário da Revolução Pernambucana de 1817.

Fez muito bem.  Esses feitos significaram a reoxigenação do órgão e a sua recondução aos seus verdadeiros trilhos.  Dirigida, nos últimos anos, por pessoas que, embora respeitáveis e bem intencionadas, não tinham perfil para comandar uma instituição de pesquisas sociais e, consequentemente, de debates, a FUNDAJ estava desaparecendo: das páginas dos jornais e da memória das pessoas. Sem debates, sem o seu “pulmão” – o Seminário de Tropicologia, a organização definhava. Até a sua extinção foi cogitada.

A breve, mas fecunda, presença de Luiz Otávio à frente da criação de Gilberto Freyre constitui um belo exemplo de como se pode administrar um órgão público de forma democrática, com respeito às divergências de pensamento, e conquistar corações e mentes para um trabalho sério e profícuo.  O maniqueísmo e o espírito de seita que dominavam boa parte do efetivo foi vencido pelo espírito de diálogo e pela simpatia.  Elegantemente, Luiz Otávio não faz referência, em sua carta de despedida, à hostilidade que enfrentou, e soube converter em respeito e colaboração. Fiel ao seu estilo, fala apenas de afeto e beleza.

E agora, amigos?  Enquanto o mestre volta às suas reflexões e instigantes análises políticas, só nos resta agradecer a sua meteórica passagem – mais pelo brilho do que pela rapidez – à frente da FUNDAJ, e almejar que o Governo Federal tenha a sensibilidade de não deixá-la cair de novo na mediocridade e no dese