Tem-se observado no Brasil de 2014 um fenômeno de radicalização e violência preocupante. Raras as manifestações públicas que não terminam com queima de ônibus e de banheiros químicos, ocupação e fechamento de estradas com queima de pneus, e, com frequência, choque com a polícia. Estranha explosão de violência num país com democracia consolidada, com liberdade de expressão, organização e manifestação, com imprensa aberta e total liberdade de publicação. Essas explosões de violência começaram na verdade nas manifestações de junho de 2013: um marco positivo de afirmação da sociedade civil de insatisfação com os serviços públicos oferecidos pelo governo. A violência naquelas manifestações era, porém, apenas de grupos minoritários no meio da multidão que se manifestava pacificamente. Ademais da insatisfação manifesta nas ruas em meados do ano passado, existe também uma crescente desconfiança da sociedade em relação às instituições e a obstrução dos canais de representação e negociação. Pesquisa realizada em 2013 (IBOPE) mostra que a confiança nas instituições caiu de 58 (numa escala de 1 a 100), em 2009, para 47, em 2013, sendo os Partidos Políticos e o Congresso os que merecem menos confiança da sociedade e a Presidência da República a que sofreu o maior declínio de 2009 a 2013. Nada disso pode, contudo, legitimar a violência gratuita dos manifestantes. Aos pensadores sociais brasileiros, cabe um esforço para entender, “no calor da hora”, o que significa isso. Ao poder público, cabe preservar o interesse do bem comum, o que significa punição à altura dos crimes cometidos contra o patrimônio público.