Editorial

O Acordo de Paris sobre mudanças climáticas assinado na semana passada foi comemorado como um marco na história da humanidade, pela amplitude e relevância de participantes, pelo reconhecimento da gravidade do problema, da necessidade urgente de reação e da responsabilidade comum da humanidade. Histórico, principalmente, pela determinação global de chegar a 2100 com zero de emissões líquidas de gases de efeito estufa. Entretanto, além da criação de um fundo para financiamento de projetos de redução das emissões de gases de efeitos estufa (que não define quais países devem alocar quanto de recursos), o acordo limitou-se a declarações de intenções e propósitos voluntários e isolados de redução de emissões assumidos por alguns países. Declarações avançadas e ousadas, é verdade, mas carentes de instrumentos de execução e de controle que garantam o alcance dos resultados.  Como disse o professor James Hansen, talvez com algum exagero, o Acordo de Paris contém apenas promessas sem ações, desejo de chegar a uma emissão zero de carbono sem definição do que e quem deve assumir quais responsabilidades. O acordo é sim um marco na história da humanidade. Porém, sem instrumentos que garantam a realização das promessas, sem metas globais de redução de emissão que obriguem as nações a mudarem seu padrão de vida e consumo, não alcançaremos os objetivos genéricos de contenção do aumento da temperatura do planeta. Talvez por isso a ministra do meio ambiente do Brasil, Izabela Teixeira., tenha dito, ao final do encontro, que o “acordo tem o sotaque brasileiro”: belas promessas, brilhantes planos e formidáveis acordos que não precisam e nem sequer devem ser cumpridos. Melhor não, melhor sem sotaque. O planeta não vai aguentar.