Sergio C. Buarque

O candidato a Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está anunciando o fim dos tempos. Com um discurso chauvinista e um populismo irresponsável e carregado de xenofobia, o candidato republicano parece o novo Cavaleiro do Apocalípse. Montado na bandeira do antiglobalismo, Trump sopra as trombetas que investem contra a integração econômica e comercial e a movimentação e interação de pessoas e culturas, e contra os direitos civis e o respeito à diversidade. Este grito reacionário mobiliza parte da nação mais rica do mundo, e que, no entanto, tem sido uma das maiores beneficiárias da globalização, da imigração e da diversidade de culturas, atraindo talentos e inteligência de todo o mundo.

Trump promete isolar a maior economia do mundo, com um PIB de US$ 17,7 trilhões e um volume de importações de US$ 2,35 trilhões (equivalente ao PIB do Brasil), rompendo os acordos internacionais que, segundo diz, “roubam empregos do país e nos tiram nossa riqueza”, suspendendo relações com a OMC – Organização Mundial do Comércio, criando tarifas de importação e impostos sobre as empresas norte-americanas que invistam no exterior, construindo um muro na fronteira com o México, e proibindo a imigração de muçulmanos e de todas as pessoas “que não estejam comprometidas com nossos valores e que não amem nosso povo”. O isolamento da maior nação do mundo jogaria o planeta no caos e no desastre econômico, para não falar em prováveis aventuras militaristas deste Cavaleiro do Apocalípse.

Como costuma acontecer com populistas em qualquer parte do mundo, Trump busca fora das fronteiras a responsabilidade pelos problemas internos dos Estados Unidos, explorando o ressentimento e o medo dos segmentos da sociedade e da economia que não acompanharam as mudanças da globalização. Se as medidas internas de um eventual presidente Trump podem provocar um profundo mal-estar nos Estados Unidos, suas propostas para a economia e para o comércio mundial serão um desastre para o sistema econômico e para a paz mundiais. Pela importância econômica, militar e estratégica dos Estados Unidos, o crescimento da candidatura de Trump representa para o mundo um alerta mais assustador que o terrorismo do Estado Islâmico ou a bomba atómica da Coreia do Norte. O isolacionismo norte-americano representaria um golpe mortal na já cambaleante economia internacional.