Editorial

Neste mundo de crescente intolerância e tantas decisões insensatas, que provocam riscos reais de intensificação de conflitos, de guerras e de instabilidade no planeta, a semana mostrou que ainda existem eleitores que preferem a negociação ao confronto, a reforma à ruptura, e a racionalidade ao populismo. Duas eleições, em países e situações muito diferentes – França e Coreia do Sul – deram-nos um alento de distensão e estabilidade política e econômica no mundo. A eleição de Emmanuel Macron na França foi um golpe duro no ascendente populismo fascista na Europa, e representa um passo decisivo para a consolidação da União Europeia, a mais bem-sucedida integração econômica e social do planeta, ameaçada pelos nacionalismos tacanhos em alguns dos seus países membros. Ao mesmo tempo em que aposta na consolidação da União Europeia, o presidente eleito da França defende ajustes na integração, para evitar as desigualdades entre alguns países, e para enfrentar o desemprego e a exclusão de grupos sociais provocada pela acelerada mudança tecnológica que acompanha a reestruturação econômica. Na mesma semana, os sul-coreanos elegeram o liberal e militante dos direitos humanos Moon Jae-in, com a proposta de negociação e pacificação das relações com a Coreia do Norte. Na contramão da aventura militarista de Kim Jong-un, com seus experimentos nucleares, e da perigosa ingerência militar de Donald Trump na península coreana, Moon Jae-in defende o entendimento diplomático com o vizinho do Norte, como forma de pacificação da região e alternativa mais adequada para deter a ameaça nuclear, mesmo concordando com a manutenção das sanções econômicas. De imediato, o novo presidente anunciou que pretende retirar o sistema de defesa antimísseis dos Estados Unidos instalado em território sul-coreano, demonstrando a preferência pelas negociações e a confiança no entendimento que, em todo caso, depende da reação do ditador do Estado vizinho do Norte. Vale lembrar que, entre 1988 e 2008, houve uma grande aproximação entre as duas Coreias, com a chamada “Política do Brilho do Sol”, quando a Coreia do Norte era comandada por Kim Jong-Il, pai de Kim Jong-un, aproximação essa que foi interrompida quando um partido direitista assumiu o poder em Seul, e George Bush Filho a presidência dos Estados Unidos. Quando sinaliza para o diálogo com a Coreia do Norte, o novo governo da Coreia do Sul abre o caminho para a distensão política e diplomática com a China, altamente incomodada com a as bases norte-americanas próximas do seu território.  Independentemente das diferenças das propostas políticas internas nos dois países, e dos seus desafios, Macron e Moon Jae-in sinalizam para uma inflexão na perigosa tendência populista e nacionalista que ameaça à democracia e a paz mundial.