Editorial

O enfrentamento de uma crise de grandes proporções, como a propagação do Covid-19 e seu impacto econômico e social, não tem eficácia na ausência de uma liderança reconhecida, com visão estratégica, capacidade de articulação e de convencimento social, e poder operacional. O natural seria que o Chefe de Estado exercesse este papel de condutor das forças vivas da nação, na estruturação de um sistema de saúde à altura do desafio, na moderação da recessão e na proteção dos segmentos mais vulneráveis da sociedade. Como tem demonstrado de forma persistente, o Presidente da República prefere liderar apenas uma facção dos brasileiros, na persistente promoção do confronto e da discórdia. Na ausência de um presidente da República, a crise pode se aguçar e levar a um desastre da nação, a não ser que novas lideranças assumam o papel e a responsaabilidade que o presidente não pode ou não quer exercer. Ao longo deste mês de ansiedade dos brasileiros com a propagação do Covid-19, coube ao ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, assumir, com competência, seriedade e transparência, a liderança da estratégia brasileira para contenção da crise de saúde pública. A segurança com que articulou e mobilizou o sistema de saúde do Brasil, associando-se à posição igualmente firme dos governadores dos Estados, está criando as condições que preparam o país para a ameaça do agressivo virus. Mesmo com algum atraso, o Ministério da Economia também entrou em ação, mobilizando os instrumentos monetários e fiscais para conter a depressão econômica, proteger os empregos e ajudar os trabalhadores informais e a população de baixa renda. O ministro Mandetta teve a coragem de ignorar as afirmações e os comportamentos irresponsáveis do Presidente da República, e conseguiu se impor como uma liderança na condução da crise. Bolsonaro não consegiu demitir Mandetta, como gostaria, e percebeu que perdeu o comando, e que está sozinho (no mundo, no Brasil e mesmo no seu governo). O Brasil está reagindo ao Covid-19 apesar dele.