Numa guerra midiática, edificações destruídas, cidades cercadas sem água e alimentos, uma imagem em especial comove, grita e denuncia a barbaridade e o absurdo da invasão da Ucrânia pela Rússia: o pequeno Hassan, ucraniano de apenas onze anos, sozinho com uma sacola plástica e uma mochila nas costas e chorando sem parar, caminhava pela estrada que leva da sua casa em Zaporizhzhia, onde bombardeio russo provocou um incêndio na maior usina nuclear da Europa, até a Eslováquia. A fuga de Hassan, procurando escapar da violência, teve um final feliz: abriu um sorriso quando chegou e foi recebido no país vizinho. A comoção da fuga de Hassan não conseguiu deter a imbecilidade da agressão de Putin, que está provocando mortes, destruição e grandes ondas migratórias. E é apenas mais uma imagem dolorosa com crianças vítimas de guerra, que comove, mas não contêm a fúria belicosa dos fanáticos e a pulsão guerreira das grandes potências. Há sete anos, o mundo chorou diante da foto do corpo inerte de Aylan Kurdi, garoto curdo-sírio de apenas três anos, que fugia de outra guerra, tentava escapar das atrocidades do Estado Islâmico, buscando asilo na Europa. A imagem angustiante do corpinho de Aylan na praia é “o mais trágico símbolo da crise de refugiados do Mediterrâneo”, como afirmou o Washington Post.
Bem antes de Hassan e Aylan, uma foto publicada em 1972 comoveu o mundo, e denunciou a desigual, injusta e desumana agressão dos Estados Unidos ao Vietnam, que fracassou diante da resistência do povo vietnamita. Com o corpo nu queimado pelas bombas napalm, os braços abertos e o rosto aterrorizado, a pequena Kim Phuc Phan Thi, de apenas nove anos, corria pela estrada em busca de ajuda e abrigo. Apesar do impacto emocional desta foto dramática, e da mobilização em todo o mundo contra a agressão dos Estados Unidos no Vietnam, a guerra ainda durou três anos, deixando um saldo de dois milhões de vietnamitas e mais de 50 mil soldados americanos mortos. Kim sobreviveu e contou a sua história num livro intitulado “A menina da foto – Minhas memórias: Do horror da guerra ao caminho da paz”, na expectativa, segundo disse, de contribuir para a luta pela paz mundial. “Quando criança, eu desejava que aquela foto nunca tivesse sido tirada. Até que eu me tornei mãe e segurei meu filho em meus braços pela primeira vez”, afirmou Kim. “Percebi que a imagem era um presente poderoso, com o qual poderia trabalhar para alcançar a paz”. Infelizmente, as fotos não impedem a guerra nem o sofrimento das crianças. E são um custo demasiado alto e intolerável da denúncia da perversão humana.
Linda crônica, Sérgio.
Pois é, como você disse em seu artigo anterior, não dá para subestimar a insensatez na história da humanidade. E nem a crueldade, uma vez iniciada a marcha da insensatez.
Sim, as fotos gritam, e todos condenam o agressor. Mas essa guerra, para parar e não escalar, exige mais que a pura condenação do agressor. Concessões recíptorcas são necessárias. E, por enquanto, estão ganhando os tipos como Victoria Nuland, que faz tudo e qualquer coisa para agravar o conflito e não para tentar atenuá-lo. E depois me aparecem uns românticos a dizer que a guerra não tem cara de mulher. Pois a guerra na Ucrânia tem, sim, cara da neocon Victoria Nuland.