Trump

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Não é fácil compreender: o que realmente significa o slogan “MAGA – Make America Great Again” (Fazer a América Grande Novamente)? Muitas são as interpretações possíveis. Qual seria a verdadeira?

Não se pode negar: ele vem cumprindo o que prometeu. Evidentemente, como um bom bufão, age com alarido, reviravoltas e sem jamais admitir recuos. Tampouco explicita claramente suas reais intenções.

Trump trouxe incerteza, gerou desconfiança, desestabilizou mercados globais, multiplicou inimigos e assumiu a pose de “senhor do mundo”. Tudo pode? Será?

No plano interno, começa a afetar duramente os estados agrícolas do centro dos EUA. Encareceu a mão de obra com sua cruzada contra imigrantes, fechou mercados ao tentar punir antigos parceiros comerciais.

Na prática, criou condições para um crescimento inflacionário: os preços dos importados subiram, as cadeias produtivas globalizadas estão em apuros, e as margens de lucro, especialmente das grandes corporações, encolheram — algumas, drasticamente.

Muitas vezes, o que se afirma não é o que se busca. O que está implícito pode ser mais relevante que o explícito. Entendê-lo é essencial para compreender os fundamentos das políticas públicas — quase sempre opacos.

O discurso oficial alega que os EUA são prejudicados no comércio internacional. Segundo essa lógica, outros países impõem barreiras a produtos americanos e subsidiam os seus, criando uma concorrência desleal. A solução? Estimular a repatriação da produção para gerar emprego e renda nos EUA. As empresas que produzirem em solo americano estariam isentas de tarifas.

Não se pode negar que alguns efeitos já são visíveis. Empresas de semicondutores, antes instaladas em Taiwan, anunciaram retorno aos EUA. O setor farmacêutico também iniciou negociações com vistas a um possível reposicionamento.

Mas convém observar que são setores altamente automatizados e robotizados, com mão de obra reduzida, qualificada e bem remunerada. São atividades com grande escala de produção, voltadas a mercados consolidados e em expansão.

Essas características, no entanto, são exceção. A maioria das cadeias produtivas globais está estruturada de forma segmentada, distribuída por diversas regiões, visando redução de custos e proximidade com matérias-primas e mão de obra barata. Há forte investimento logístico para garantir eficiência nesse modelo.

Assim, políticas tarifárias têm eficácia limitada e não são suficientes para reverter estruturas consolidadas nas cadeias produtivas globais. As reviravoltas nas tarifas e as pressões de multinacionais revelam os limites dessas medidas.

A economia americana está em polvorosa: o agronegócio está prejudicado; indústrias desarticuladas; o setor de serviços voltado ao mercado externo, com bilhões em circulação, ameaçado por novos players.

Nem mesmo o objetivo mais evidente — conter a China — tem se concretizado. Pequim não recua e amplia suas parcerias com países da Ásia, América Latina e União Europeia.

Trump não é ingênuo. Provavelmente, antecipava muitas das reações internas e externas — talvez não em sua totalidade, mas sabia que haveria resistência.

Surge então a pergunta: qual seria o objetivo real dessas medidas? O que estaria implícito?

Um artigo de um professor da Universidade do Missouri oferece uma hipótese instigante: o verdadeiro alvo do tarifaço não seria o retorno das empresas nem a geração de empregos — objetivos com impacto limitado. A meta principal seria outra: reduzir drasticamente os impostos internos.

Esse projeto atenderia aos interesses do grande capital, ao eliminar tributações sobre a produção interna e ampliar as margens de lucro. Isso explicaria a reação morna do empresariado. Estaria em jogo uma expectativa de ganhos fiscais em curto prazo.

Mas, para cortar impostos, é preciso reforçar o caixa estatal. A solução? Aumentar a arrecadação via tarifas de importação. O tarifaço seria, assim, um instrumento transitório para criar folga fiscal que viabilize a reforma tributária almejada.

Há uma lógica nessa estratégia: romper acordos internacionais, gerar instabilidade e inflação, enquanto se consolida um pacto com o grande capital — incluindo as big techs — em troca de cortes drásticos na tributação.

Essa política se articula com uma disputa mais ampla por hegemonia no campo do conhecimento, onde os EUA vêm perdendo espaço. A aposta de longo prazo parece ser a retomada da liderança tecnológica por meio de estímulos fiscais às empresas nacionais.

Trata-se de um caminho tortuoso, que abala a lógica dos mercados globais e adota o protecionismo como instrumento a serviço do capital financeiro — não da população em geral, mas das elites econômicas em busca de lucros astronômicos.

Retoma-se, enfim, a velha máxima de que os fins justificam os meios — mesmo que esses meios causem instabilidade, prejuízos e sofrimento em escala global.