Editorial

Infelizmente o presidente Donald Trump tem uma qualidade rara nos políticos: cumpre as promessas de campanha, mesmo as mais retrógradas. É o que está mostrando de forma lamentável. Em menos de uma semana no poder, Trump começou a operação arrasa quarteirão que vinha anunciando na campanha, reiterada no seu discurso de posse: retirou os Estados Unidos da Associação Transpacífico, o mega acordo comercial dos Estados Unidos com Canadá, países da América Latina, da Oceânia e da Ásia, autorizou a construção de dois longos oleodutos que estavam suspensos por razões ambientais, decretou medidas para construção do muro separando o país do México que, segundo insiste, terá seus custos ressarcidos pelos mexicanos, e decretou a suspensão por quatro meses do programa de refugiados e a proibição temporária da entrada de pessoas vindas do Iraque, Irã, Líbia, Síria, Somália, Sudão e Iêmen (países de maioria muçulmana) até a criação de novas políticas de concessão de vistos. Um dos oleodutos passa sob o rio Missouri e corta duas reservas indígenas, gerando a indignação dos movimentos ambientalistas e da liderança da tribo Sioux. Na sua desmedida arrogância, Trump ainda abriu um grave conflito diplomático com seu vizinho do sul afirmando que o presidente Enrique Peña Nieto não deveria ir para a reunião prevista para esta semana em Washington se o México não quiser assumir os gastos com o muro. Peña Nieto, prontamente, cancelou a visita, prenunciando tensas relações entre os dois grandes países e parceiros comerciais. Além desta maratona de insensatez, o presidente Trump ainda tem tempo para inventar que teria havido fraude nas eleições que o elegeu para a Casa Branca simplesmente porque seu narcisismo não suporta ter tido menos votos que a sua concorrente. Mas, se houve fraude, que sejam anuladas as eleições.