O Festival Internacional de Cinema de Locarno, na região suíça de língua italiana, o Ticino, é considerado o quarto pela ordem de importância, depois de Veneza, Cannes e Berlim. Tem, porém, uma particularidade: sendo um festival no começo do outono europeu ainda com noites quentes, inclui, além das projeções nas salas escuras, bons filmes exibidos ao ar livre, na maior praça da cidade, a Piazza Grande, num telão de 400 metros quadrados.
Tudo está previsto para o prazer dos oito mil espectadores sentados na Piazza Grande, porém não existe uma garantia a 100% de noites sem chuva. Alguns ainda se lembram das três noites consecutivas de chuvas na Piazza Grande, durante o festival de 2001. Este ano, o primeiro filme a ser exibido na praça pode chamar chuva por seu título!
O filme inaugural do Festival de Locarno, O Dilúvio, tem uma história bem francesa, mas é dirigido pelo cineasta napolitano Gianluca Jodice, tendo como atores principais Mélanie Laurent e Guillaume Canet.
É uma reconstrução dos últimos dias do casal real Louis XVI e Maria Antonieta, presos e retirados de Versalhes com seus filhos nos tumultos da Revolução Francesa, em 1789, e levados à Torre do Templo, um sinistro castelo parisiense, onde aguardam julgamento. O fim do filme não é segredo, é a pena de morte na guilhotina.
O filme é ainda inédito e só será lançado nos cinemas e streaming no dia 25 de dezembro. Gianluca Jodice ficou conhecido por seu filme O Mau Poeta, sobre a relação entre Gabriele D`Ánnunzio com Benito Mussolini, vista pelos olhos de Giovanni Comini, funcionário do Partido Fascista.
Será também exibido na Piazza Grande o filme iraniano As Sementes da Figueira Sagrada, de Mohammad Rasoulof, com Prêmio Especial no Festival de Cannes. O cineasta iraniano fugiu do Irã, onde tinha sido condenado pela ditadura teocrática a cinco anos de prisão e a receber 50 chicotadas por seus filmes.
Haverá 17 filmes inéditos selecionados para a Competição Internacional, dos quais 7 são dirigidos por realizadoras. Essa quase paridade de gênero é considerada uma inovação entre os festivais internacionais.
Na falta de filme brasileiro na competição, chama a atenção o filme português em coprodução com a Suíça, Fogo do Vento, primeiro filme de Marta Mateus. Uma síntese do enredo foi distribuída pela produção – Soraia trabalha na vindima e é protagonista de um ritual quase perdido. Ela enfrenta um grande touro preto que escapou. No alto das árvores, num plano entre mundos, a comunidade partilha o pão com os antepassados convocados para a celebração da vida e do vinho. Entramos na grande noite onírica, onde a natureza também fala. Arde, é o fogo do vento que traz a onda de calor.
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